quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

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OS PATRÍCIOS
A Associação dos Patrícios foi fundada em 1955. A sua finalidade consiste em
desenvolver os conhecimentos religiosos das pessoas, ensiná-las a explicarem-se e
encorajá-las ao apostolado. O seu método tinha caráter experimental, mas conservou-se
sem mudança. Embora houvesse quem de início propusesse alterações, achou-se que todas
elas não passavam de versões de métodos já existentes, tais como as aulas de catecismo, o
sistema de conferência e a sessão à base de perguntas e respostas. Todos estes métodos têm
o seu lugar próprio e essencial, mas não resolvem o problema talvez básico da Igreja: a
falta de conhecimento religioso dos adultos e as línguas paralisadas dos leigos. Os Patrícios
têm mostrado a sua eficiência neste campo e por isso devem ser cuidadosamente
preservados. O seu sistema é de um equilíbrio delicado. Uma pequena mudança iria
transformá-lo em uma coisa totalmente diferente, precisamente como uma pequena
alteração na sintonização de um rádio traz uma estação diversa.
Aqueles métodos estabelecem que uma ou várias pessoas entendidas num assunto
tomem sobre si o trabalho de nele instruir outras pessoas, enquanto que o método dos
Patrícios é o da própria Legião – a realização por todos, unidos, de uma tarefa. Todos
trabalham juntos na pesquisa ativa de novos conhecimentos.
Analisando bem, vemos que os Patrícios são verdadeiros filhos da Legião, pois
possuem vários elementos que são próprios da Legião. Os Patrícios são o aproveitamento
do sistema da Legião para promover a formação religiosa das pessoas.
Maria trouxe Jesus ao mundo, por isso dirige a Legião. Ela está encarregada de
transmitir aos homens o que Jesus veio nos ensinar. Este domínio de Maria é significado
pelo altarzinho legionário que deve constituir o centro da reunião patrícia. Os Patrícios
reúnem-se em volta dela, para conversar sobre a Igreja, em todos os seus aspectos, isto é,
sobre Jesus que está presente no meio deles, conforme a Sua promessa. É esta uma elevada
forma de oração, que se torna fácil pela variedade da reunião; seria difícil despender duas
horas contínuas numa oração regular. É esta uma razão por que os Patrícios espiritualizam
ao mesmo tempo em que instruem.
A primeira exigência num Praesidium é obter de cada membro um relatório falado.
Os Patrícios insistem no mesmo assunto, para conseguir que cada um dê, falando, a sua
participação. A disposição e direção da reunião devem ser orientadas para este
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[Capítulo 38 Os Patrícios página 258]
fim. O ambiente das reuniões deve ser agradável, como em uma família. Mesmo que alguns
gostem de falar mais que outros, todos devem poder expressar suas idéias. Nos debates
comuns geralmente acontecem ataques, condenações ou até mesmo expor alguém ao
ridículo. Isso deve ser evitado nas reuniões de Patrícios, a fim de que seus participantes não
desapareçam.
É preciso criar nas reuniões o espírito familiar, acolhedor, onde todos se sintam
bem, para que sejam construídas as bases dos Patrícios. Da participação oral de cada um
devem surgir novas participações, como na construção de uma corrente, em que um elo se
liga a outro. As falhas no conhecimento serão esclarecidas, facilitando, assim, o
entendimento da doutrina católica. Quanto mais crescerem os conhecimentos e o interesse,
mais estarão os membros unidos ao Corpo Místico e penetrados por Sua vida.
Nas outras características, o método patrício representa também a aplicação da
doutrina e da técnica legionárias. È importante que os legionários tomem disto plena
consciência, para porem no funcionamento dos Patrícios a mesma confiança com que
encaram o Praesidium. Só assim estarão bem preparados para a tarefa que têm de enfrentar.
É lamentável que os próprios católicos não falem de religião para os que estão fora
da Igreja e mesmo aos que estão dentro dela. Os cristãos ficam totalmente calados. O
Cardeal Suenens resume assim a situação: “Diz-se que os que estão fora da Igreja não
querem ouvir. A verdade autêntica é que os católicos não falam”. Parece que os católicos,
em geral, não ajudam os outros no domínio religioso. Não se dão informações àqueles que
as procuram sinceramente e cria-se assim a impressão incorreta de que os católicos são
indiferentes em matéria de conversões.
Este grande fracasso parece ameaçar a própria natureza do Cristianismo, pois
Cristianismo não é egoísmo. A situação, todavia, não é tão má como parece. Em geral este
silêncio e aparente desinteresse são causados pela falta de confiança:
a) Tais pessoas estão muito conscientes da sua falta de conhecimento religioso.
Conseqüentemente evitam qualquer ocasião que possa expor a sua fraqueza à luz do dia.
b) Mesmo no caso de posse de conhecimentos substanciais, estes apresentam-se
isolados uns dos outros, como as respostas no antigo Catecismo. O espírito não realizou
ainda a operação de os juntar de forma coerente, como as partes se unem para formar, por
exemplo, um automóvel ou o corpo humano. Há ainda outras
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complicações: aqui e ali faltam conhecimentos e estes não se harmonizam com aqueles.
Mesmo que se juntem todos os conhecimentos, o resultado seria semelhante a uma máquina
cujas peças não se ajustam umas às outras e, por esse motivo, não funciona.
c) Em muitos casos, a ignorância é tal que a fé precisa de base suficiente para se
apoiar. Existe um estado de meia crença. E bastará encontrar-se num ambiente sem religião
para se desintegrar.
Eis aí o problema.
Os Patrícios são uma associação dirigida pela Legião. Cada grupo deve filiar-se a
um Praesidium e o seu Presidente deverá ser um legionário ativo. Um Praesidium pode
responsabilizar-se por vários grupos. Cada grupo deve ter um Diretor Espiritual, aprovado
pelo Diretor Espiritual do Praesidium. Um Religioso (que não seja sacerdote) ou uma
Religiosa podem desempenhar as funções de Diretor Espiritual e (se a Autoridade
Eclesiástica o permitir) até um leigo.
O título de Patrícios, como muitos dos outros nomes legionários, tem sua origem na
antiga Roma. Era a mais elevada das três classes sociais de Roma: Patrícios, Plebeus (gente
do povo) e Escravos. Mas os nossos Patrícios aspiram a unir todas as classes sociais numa
única nobreza espiritual. Além disso, os Patrícios romanos deviam distinguir-se pelo amor a
sua terra e pela responsabilidade por seu bem-estar. De igual forma, os nossos Patrícios
devem ser os defensores da sua Pátria Espiritual, a Igreja. O regulamento não exige que
sejam católicos fervorosos ou praticantes, mas apenas que o seu viver seja francamente
católico. Os católicos que tiverem idéias contra a Igreja Católica não podem fazer parte dos
Patrícios.
A não ser que o Bispo declare o contrário, os não-católicos não podem participar
das reuniões.
A reunião dos Patrícios deve ser realizada todos os meses.
A pontualidade e a continuidade são essenciais. As reuniões não podem deixar de
ser realizadas, a não ser por algum motivo que realmente impeça a sua realização. Não é
obrigatória para o membro a participação em todas as reuniões. Será, pois, necessário um
meio para lembrar os membros da próxima reunião.
Para que haja melhor aproveitamento nas reuniões, é muito bom que os grupos não
ultrapassem o número de 50 pessoas, e mesmo este número apresenta dificuldades.
Disposição da sala. É importante que a sala de reuniões seja arrumada com aspecto
de bastante ordem, evitando-se utili-
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zar das salas de teatro com palco e auditório. Tanto quanto possível, os assentos deverão
dispor-se em semicírculo com a mesa a completar o círculo. Sobre a mesa, será armado o
altar legionário, com o Vexillium ocupando lugar de destaque.
A reunião deve ser realizada em local arejado, iluminado, agradável, com assentos
confortáveis para os participantes, a fim de despertar o interesse de todos.
Para pagar as despesas será feita uma coleta secreta. Em cada reunião se apresentará
um relatório das contas.
ORDEM DA REUNIÃO
1. A reunião começa com a oração dos Patrícios rezada por todos de pé, em
conjunto.
2. Segue-se uma palestra, por um leigo, rigorosamente limitada a 15 minutos. Não
há necessidade de ser muito longa, pois isso poderá ser prejudicial. A pessoa escolhida para
fazer a palestra não precisa ter grandes conhecimentos, porque, às vezes, isso até pode
atrapalhar. Foi até mesmo sugerido não se fazer a palestra. Mas é claro que há necessidade
de que alguém faça inicialmente alguma colocação sobre o assunto, para que os
participantes tenham por onde começar o debate.
3. À palestra segue-se o debate geral. Todas as partes da reunião existem por causa
deste debate e para o seu pleno exercício devem ser orientadas. Não pode haver discussão
sem que os membros, individualmente, para ela contribuam. A dificuldade, muito comum
nas reuniões dos Patrícios, é conseguir que pessoas tímidas participem dando sua opinião.
Essas dificuldades devem ser superadas, para o bem dessas pessoas e da própria Igreja.
Conseqüentemente, deverá dar-se todo o auxílio neste sentido e afastar todas as
influências contrárias. Uma atitude áspera para com as declarações erradas ou sem lógica
(de que haverá muitas) seria fatal. Frustraria o propósito dos Patrícios que é levar cada um a
abrir-se. Daí a importância da liberdade de expressão, liberdade que deve ser favorecida,
ainda que venham a dizer-se coisas inconvenientes. Recordemo-nos de que essas coisas são
repetidas, freqüentemente, lá fora, sem que ninguém as corrija.
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O principal, pois, é que cada um dê a sua contribuição pessoal e não que seja ela
sábia e correta. As contribuições muito ricas em conhecimentos podem ter bastante brilho,
mas, às vezes, uma contribuição humilde e modesta alcança maiores frutos entre as pessoas
mais simples.
É psicologicamente importante que as palestras sejam dirigidas a toda a assembléia
e não ao responsável pela reunião. Quando o orador terminar de falar, as pessoas devem
sentir-se bem à vontade, para poder fazer os comentários. E é essa capacidade de falar,
questionar e responder a questionamentos que se quer desenvolver nos Patrícios.
Este equilíbrio psicológico seria perturbado se o espírito das pessoas fosse distraído
por qualquer outra coisa. Tal seria bem o caso, se o Presidente chamasse a atenção sobre si,
intercalando um comentário ou apreciação; ou se o orador inicial interviesse com
freqüência para tratar pontos levantados no seu pequeno discurso; ou se o Diretor Espiritual
quisesse resolver cada dificuldade à medida que elas fossem aparecendo. Qualquer
tendência nestas direções seria destrutiva. Transformaria a reunião em discussão com
especialistas, onde alguns indivíduos fariam perguntas a eles, e deles receberiam as
respostas.
É para desejar que se crie uma atmosfera que anime os tímidos a falarem.
O Presidente terá paciência para receber comentários isolados, fora do assunto da
reunião. Chamar a atenção de alguém diante de toda a assembléia poderá intimidar ou inibir
as pessoas. Mas se a discussão da assembléia se desviar totalmente do assunto, então o
Presidente intervirá para a reunião não ser prejudicada.
As pessoas devem pôr-se de pé para falar. Provavelmente as contribuições seriam
mais espontâneas, se as pessoas ficassem sentadas. Mas, falando sentados, poderemos
correr o risco da reunião se transformar em simples conversação.
Os membros têm a liberdade de falar mais do que uma vez; mas o que ainda não
falou tem prioridade sobre aquele que já falou.
4. Uma hora após o começo da reunião, suspende-se o debate e apresenta-se o
relatório das contas. Lembra-se também que a coleta secreta será feita imediatamente
depois da palestra do Diretor Espiritual.
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5. Serve-se em seguida o chá ou café com biscoitos, ou um leve refresco. Este ponto
constitui um traço essencial da reunião e não deve omitir-se. Satisfaz muitos importantes
objetivos: a) dá aos Patrícios um benéfico aspecto social; b) serve para troca de idéias; c)
desinibe as pessoas; d) oferece ocasião para um contato apostólico.
Foi sugerido que se omitisse o refresco, mas se conservasse o intervalo para outros
fins. Na prática, não seria fácil justificar o intervalo sem os refrescos.
Este intervalo deve durar 15 minutos.
6. Vem em seguida uma palestra de 15 minutos do Diretor Espiritual. Tudo
trabalhou para esta palestra que será ouvida com uma atenção concentrada. É muito
importante, pois é o momento em que se ordena e corrige tudo que foi discutido durante o
debate e deve contribuir para aumentar o amor ao serviço de Deus.
Há quem diga: “Por que não colocar a palestra no fim da reunião, quando se poderia
fazer um balanço de tudo o que foi dito?” A resposta é que a palestra do sacerdote destinase
a constituir precioso material para a discussão que se segue. Isso não se conseguiria
colocando-a no fim. Há ainda um outro motivo. É que a palestra pode não ser inteiramente
compreendida por todos os presentes e neste caso entra em ação o “princípio de
interpretação” na discussão que se segue. (Sobre o “princípio de interpretação” se falará
mais adiante).
7. Depois da palestra do Diretor Espiritual, continua o debate geral até cinco
minutos antes do fim.
8. Nessa altura a) o Presidente exprime em breves palavras o agradecimento da
assembléia ao palestrante leigo; esse agradecimento não deve ser formal. b) Decide-se qual
o assunto da próxima reunião. Os assuntos devem tratar de religião. Evitem-se os assuntos
que sejam somente acadêmicos, culturais, literários ou econômicos. c) Dá-se qualquer outro
aviso.
9. Segue-se a Oração Final que é o Credo, rezado por todos, de pé, juntos.
10. A reunião termina com a bênção do sacerdote. Esta recebe-se de pé, para evitar a
desordem resultante da tentativa de se ajoelhar entre cadeiras numa sala cheia de gente.
A duração total da reunião será, portanto, de duas horas. É necessário observar com
exatidão o tempo. Se qualquer das par-
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tes demorar-se muito, prejudicará as outras e atrapalhará o ritmo da reunião. Devem ser
observados a ordem da Reunião e o tempo marcado para cada parte, à página 268.
Não deve haver a preocupação de resumir. Não haja receio de que alguns pontos
importantes fiquem por resolver. Depois de uma reunião, outras virão e, no fim, tudo se há
de esclarecer completamente.
Os trabalhos não são obrigatórios, nem se distribuem tarefas na reunião, nem se
pressionam os membros para que realizem qualquer atividade a mais. Mas os contatos que
se estabelecem durante a reunião devem ser utilizados para orientar as pessoas em todos os
sentidos, especialmente para encaminhá-las para a Legião, como membros Ativos,
Auxiliares ou Adjutores. Bem orientados, os Patrícios serão fonte de muitos benefícios para
a comunidade.
ALGUNS PRINCÍPIOS PATRÍCIOS
1. Psicologia do grupo. Todo ser humano precisa da ajuda de um outro, seu
companheiro, e naturalmente formam-se grupos. O grupo exerce a sua influência na medida
em que possui regras e um objetivo. O indivíduo esforça-se por acompanhar o grupo a que
pertence, fato que pode resultar em bem ou mal. Deixa de ser apenas assistente, para
participar ativamente do grupo. Caso se sinta nele à vontade, constituirá dentro do grupo
uma força. Aplicado aos Patrícios, o que acabamos de expor significa que uma pressão tão
calma como irresistível se exerce sobre todos, inclusive os mais lentos, no sentido de
assimilarem o que ouvem e se manterem ao nível do grupo, ainda sob outros aspectos. Um
grupo pode ser muito ativo sem no entanto alcançar nenhum progresso. Por isso, os
Patrícios buscam sempre ter alguns membros com ideais elevados e idéias superiores, de tal
maneira que, por força da psicologia do grupo, essas idéias sejam absorvidas por todos os
membros, e o grupo esteja sempre crescendo em qualidade.
2. As longas pausas. Às vezes fazem-se longos silêncios durante as discussões e o
Presidente é tentado a pressionar os membros para que falem. Isso não é correto, porque
pode ser criado um ambiente de tensão, o que inibiria ainda mais as pessoas de
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falarem. O verdadeiro ponto de vista, nestas ocasiões, é que às vezes o silêncio se faz
necessário. Então, quando isso acontecer, todos deverão permanecer sentados, calmos, até
que seja restabelecido o clima da reunião. Assim procedendo, todos se sentirão à vontade,
recomeçarão a falar, como acontece nas famílias. Nestas, as pessoas nunca se sentem com
medo de falar, mas, às vezes, o silêncio é natural e conveniente.
3. O adiamento da solução. Existem duas maneiras para a solução de um
problema. O primeiro consiste na resposta imediata de quem entende ou de quem está
dirigindo a reunião. O segundo consiste em permitir que a própria pessoa que perguntou
ache a solução. No primeiro caso a resposta é mais direta, e a maior parte dos professores
de nossas escolas agem assim. Neste caso, corre-se o risco de nem todos entenderem a
explicação, não contribuindo para o desenvolvimento das pessoas. O segundo caso exige
mais atenção, pois coloca-se todas a responsabilidade sobre os participantes da reunião,
contribuindo para um troca de experiências. O resultado final deste processo de ajuda
mútua é que todos aprendem realmente. Como a solução surgiu de um lento esforço pessoal
de moldagem, estão à vontade com ela, recordam-na e ganham confiança para o futuro.
Este é o método patrício. Vejamos: no caso de ser falado algum assunto impróprio
ou errado, não deverá ser feita uma correção imediata pela autoridade, antes que a
assembléia discuta o assunto. Desta discussão provavelmente surgirá o esclarecimento,
sendo o erro corrigido. Persistindo o erro, deverá ser feita a correção, porém sem humilhar
ninguém, lembrando-se com que amor e carinho Maria ensinava o Menino Jesus.
4. Perguntas. O sistema de conferências considera desejável produzir uma reação
nos ouvintes, e, de acordo com isto, convidá-los a fazer perguntas. Alguns aceitam o apelo
e o conferencista responde-lhes. Os Patrícios, pelo contrário, não aceitam bem esse sistema,
mas consideram-no como uma interrupção do debate – quase o equivalente a um curto
circuito elétrico. Muitas pessoas, de início, não terão outra idéia de contribuir para a
discussão senão fazendo perguntas a um dos responsáveis pela reunião. Se se tenta
responder-lhes, a discussão é prejudicada e convertida numa aula, e os membros não
permanecerão.
A melhor maneira de conduzir a discussão, neste caso, está em que toda pessoa que
apresentar uma pergunta apropriada de-
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ve ajuntar-lhe as suas próprias idéias sobre a resposta. Está provado que este modo de agir
consegue lançar proveitosamente a pergunta na corrente da discussão.
5. Princípio de construção dos Patrícios. Desenvolver um conhecimento
ajuntando, por assim dizer, um tijolo a outro, é bom. Mas o que acontece com os Patrícios é
mais uma multiplicação do que uma soma. Os Patrícios, à medida em que os assuntos
surgem, devem ter a preocupação de ligá-los com o que já foi dito desde o início. As
opiniões, assim, vão se modificando e aparecem novas idéias. O que parece ser complicado,
com o auxílio da graça, servirá como que um fermento para o espírito, bem como trará
resultados positivos para toda a assembléia. Podemos comparar esse efeito com a subida da
maré, pois num impulso positivo, transmitirá energia e até aumentará a fé, e contribuirá
também para uma mudança de vida.
6. Os papéis principais. Assim como o Praesidium depende dos seus Oficiais,
assim os Patrícios dependem de algumas pessoas responsáveis. Essas pessoas devem tomar
cuidado para não exceder nas suas funções, pois, se isso viesse a acontecer, o papel a ser
desempenhado pelos membros teria o seu valor diminuído. A sala de reunião seria
transformada em escola. É de grande importância que o Diretor Espiritual, o Presidente e o
palestrante respeitem os limites de tempo e atribuições, mesmo que queiram fazer o
contrário. As pessoas mais simples não se sentiriam à vontade diante dos conhecimentos e
autoridade dos dirigentes. Por isso, os Oficiais dos Patrícios devem seguir o exemplo de
Jesus que, como ninguém, soube ensinar: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração” (Mt 11, 29). Podemos dizer que a humildade dos responsáveis contribuirá para o
debate transcorrer mais livremente. Isso não significa que não possam participar, como os
demais membros, da discussão, mas devem tomar cuidado para não se colocarem como
donos do assunto.
7. Princípio de interpretação. Uma das principais características dos Patrícios é o
seu “princípio de interpretação”. Através dele, as idéias mais complicadas colocadas pelos
que têm mais conhecimentos vão sendo ditas de outras formas mais simples, e passam a ser
entendidas por todos.
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Esta capacidade de estarem lado a lado os de mais e menos conhecimento,
entendendo-se mutuamente, tem um grande valor. Eis como isso acontece: Suponhamos
que a palestra inicial (ou qualquer outra contribuição) é de tão elevada natureza que apenas
dez por cento dos presentes a entendem. Se fosse uma conferência vulgar, se perderia. Mas,
nos Patrícios, dez por cento que a entenderam começam a discuti-la. Fazem isto, na prática,
de uma maneira que se harmoniza com o nível da maior parte dos membros, de sorte que a
difícil palestra inicial está em vias de ser reduzida ao nível de compreensão geral. Depois,
outros começam também a falar, realizando-se finalmente uma operação equivalente à da
moagem do grão em fina farinha. Todas as dificuldades contidas na palestra primitiva
foram por assim dizer interpretadas ou traduzidas para o nível de entendimento de todos os
membros. Deste modo nenhuma contribuição para os Patrícios é perdida.
Esta característica dos Patrícios possui um valor sem igual em condições primitivas
como as dos territórios de missão. A tarefa do missionário aí é ensinar a plenitude do
Catolicismo a pessoas cuja linguagem ele não entende completamente e cuja mentalidade é
diferente da sua. O poder de interpretação dos Patrícios fará a ponte sobre estes profundos
abismos.
8. Dando a Deus alguma coisa que Ele possa utilizar. Nesta matéria há muito
mais em jogo do que juntar uns tantos tijolos e fazer com eles um edifício. Há o princípio
da Graça que, excedendo a natureza, nos habilita a construir um edifício muito maior do
que aquele para o qual possuímos materiais.
No domínio da religião revelada, devemos entender que ninguém tem uma resposta
completa, porém nela vemos a ação da Fé e da Graça sempre presentes. Mesmo os
argumentos mais sábios talvez não sejam suficientes para ajudar nos esclarecimentos, mas
devemos ter em mente que tanto os argumentos sábios como os menos sábios têm valor. Na
verdade, Deus transforma o mais simples argumento em alguma coisa muito proveitosa.
Todos devem se esforçar ao máximo, para que cheguem a uma mais perfeita compreensão,
o que realmente acontece na prática. Será que isso acontece por que a dificuldade era menor
do que se pensava? Ou por que a contribuição de cada um foi maior do que parecia? Ou por
que Deus, com a Sua Divina Sabedoria, completa as deficiências dos argumentos
apresentados? Não sabemos, mas temos a certeza de que o trabalho foi realizado.
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[Capítulo 38 Os Patrícios página 267]
Essa orientação constitui sempre o nosso modo de pensar, não só para a assembléia
dos Patrícios, mas para todas as outras reuniões. Por mais modesta que seja a participação,
ela deve ser dada, porque um esforço, por mais insignificante que seja, vale mais do que
nada. A conversão do mundo é um dever do católico, que jamais poderá ficar calado sem
participar. Diante disto, o papel dos Patrícios é de grande importância.
ORAÇÃO DOS PATRÍCIOS
(rezada por todos juntos, de pé)
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Amabilíssimo Senhor Jesus,
Dignai-Vos abençoar a Associação dos Patrícios,
Em que nos alistamos,
Para nos aproximarmos cada vez mais de Vós e de Maria, Vossa e nossa Mãe.
Ajudai-nos a conhecer melhor a nossa Fé,
Para que o poder transformador das suas verdades exerça influência real na nossa vida.
Ajudai-nos a compreender a Vossa íntima união com os homens,
União que não só os faz viver em Vós, mas depender tão estreitamente uns dos outros,
Que a falta de esforço de alguns faz sofrer e expõe à morte os restantes.
Concedei-nos a graça de reconhecermos o pesado mas glorioso fardo que assim nos
impusestes,
E acendei em nossos corações o desejo ardente de o levar com entusiasmo por amor de
Vós.
Conhecemos bem os pobres homens que somos, as falhas da nossa natureza,
E como somos indignos de Vos oferecer os nossos ombros.
Confiamos, porém, que haveis de olhar mais para a nossa Fé do que para a nossa
fraqueza,
Que atendereis mais às necessidades do Vosso trabalho do que à insuficiência dos
instrumentos.
Por isso, unindo a nossa voz às súplicas maternais de Maria, pedimos a Vosso Pai
Celeste e a Vós a infusão do Espírito Santo,
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[Capítulo 38 Os Patrícios página 268]
para que fique conosco e nos ensine a Vossa doutrina vivificante e nos ajude em todas
as nossas necessidades.
Fazei, Senhor, que, enriquecidos liberalmente por Vós, saibamos dar aos outros com
generosidade,
Pois, de outro modo, a terra não poderá receber os frutos da Vossa Encarnação e
Morte dolorosa,
Não permitais, Senhor, que trabalhos e sofrimentos tão grandes sejam inúteis. Amém.
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.
ORDEM DA REUNIÃO
Grupos ordinários
0:00h – Oração dos Patrícios (rezada por todos de pé).
Palestra por um leigo (não passar de 15 minutos).
0:15h – Debate.
0:59h – Relatório da Tesouraria juntamente com o aviso de que, imediatamente
após a palestra do sacerdote, se fará a coleta secreta.
1:00h – Intervalo (Chá).
1:15h – Palestra do sacerdote (nunca passar de 15 minutos)
1:30h – Continuação do debate. Coleta secreta.
1:55h – Avisos (agradecimento ao orador leigo, data e assunto da próxima
reunião, etc.).
2:00h – Credo (rezado por todos de pé).
Bênção do sacerdote (recebida de pé).
Grupos de estudantes e juvenis
Nos casos seguintes, em que for realmente impossível conformar-se à norma geral, isto é,
tratando-se de a) grupos dentro de colégios ou instituições, e b) grupos com membros
abaixo dos 18 anos, permite-se o breve processo seguinte, cuja duração é de hora e meia:
0:00h – Oração dos Patrícios, seguida de uma Palestra por um leigo (não passar
de 15 minutos).
0:05h – Debate (40 minutos).
0:45h – Intervalo (10 minutos). (O chá pode omitir-se).
0:55h – Palestra pelo Diretor Espiritual (10 minutos). A coleta pode omitir-se.
1:05h – Continuação do debate (20 minutos).
1:25h – Avisos (como acima).
1:30h – Credo, etc., como acima.
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[Capítulo 38 Os Patrícios página 269]
“Os Patrícios são um assunto de família. Uma conversa familiar acerca daquilo
que interessa a todos nós, aberta, franca, cordial, é uma das delícias da vida de casa. Nós,
os cristãos, como irmãos de Cristo, pertencemos à família de Deus. Pensar acerca da fé,
conversar sobre ela e discutir a sua aplicação naquele espírito que animava o Senhor e os
apóstolos quando conversavam sobre os ensinamentos do dia, depois de uma jornada
missionária na Galiléia – eis o espírito dos Patrícios.
Conhecer Jesus Cristo como maravilhoso e adorável professor, mestre e Senhor
que é, significa termos de embeber o nosso espírito nas suas verdades salvadoras,
sentirmos-nos inteiramente à vontade ao falar de religião, tal qual como gostamos de falar
dos nossos filhos, do nosso lar, do nosso trabalho. O espírito Santo dá-nos o discernimento
da verdade de Cristo. É este discernimento que nós partilhamos com os outros na reunião
de Patrícios, ao mesmo tempo em que também aprendemos deles. Aí, somos testemunhas
de Cristo e os nossos corações ardem dentro de nós, quando Ele nos fala pela boca do
nosso vizinho.
Nos Patrícios e através dos Patrícios, Deus aproxima-se de nós; as suas verdades
gravam-se em nós mais profundamente; a Igreja, campo do nosso esforço, torna-se para
nós mais real. As inteligências iluminam-se mutuamente; os corações abrasam-se com fé;
Cristo cresce dentro de nós.” (Padre P. J. Brophy)
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