quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

CAPÍTULO 18 A 21

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AS ALMAS DOS LEGIONÁRIOS FALECIDOS
Terminada a caminhada da vida, eis o legionário gloriosamente reclinado no leito da
morte. Agora, é ele confirmado no serviço legionário e por toda eternidade. Esta eternidade
foi a Legião que o ajudou a conquistar. Ela formou a essência e o molde de toda a sua vida
espiritual. Pelo poder das suas orações, rezadas
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[Capítulo 17 As Almas dos Legionários Falecidos página 103]
cada dia fervorosamente num só coração por todos os legionários Ativos e Auxiliares, a fim
de que a Legião pudesse reunir-se no céu sem uma perda, ela ajudou-a a vencer os perigos e
dificuldades de toda a sua longa vida. Que pensamento suave e consolador para todos os
legionários! Neste momento, sofremos por termos perdido um companheiro e um amigo.
Apressemo-nos a orar para que a alma deste soldado seja prontamente libertada do
Purgatório.
Imediatamente depois do falecimento de um membro ativo, o Praesidium mandará
rezar uma missa pelo seu eterno descanso; e todos os membros do Praesidium devem rezar
ao menos uma vez as Orações da Legião, incluindo o Terço, pela mesma intenção. Estas
obrigações, porém, não se estendem aos parentes dos legionários. Todos os legionários que
o puderem fazer, e não só os do próprio Praesidium, deverão tomar parte na santa missa e
no enterro.
Recomenda-se a reza do Terço e das outras orações legionárias durante o enterro.
Isto poderá fazer-se imediatamente a seguir às orações oficiais da Igreja. Este costume,
extremamente proveitoso ao falecido, é profundamente consolador para os seus parentes
entristecidos, para os próprios legionários e para todos os amigos presentes.
Esperamos com confiança que as mesmas orações sejam rezadas mais de uma vez,
durante o velório, e que não limitaremos a isto a nossa piedosa lembrança.
No mês de Novembro, cada Praesidium mandará celebrar uma missa pelos
legionários falecidos, não só do Praesidium, mas de todo o mundo. Nesta ocasião como em
todas as outras em que se reza por eles, incluiremos nessas intenções os diversos graus de
membros da Legião.
“O Purgatório faz parte do Reino de Maria. Lá se encontram também alguns dos
seus filhos que, em dolorosos momentos de aflição, esperam o nascimento para a glória
eterna. S. Vicente Ferrer, S.Bernardino de Sena e Luís de Blois e outros, declaram
explicitamente que Maria é Rainha do Purgatório; e S. Luís Maria de Montfort convidanos
a pensar e agir de acordo com esta crença. Quer que ponhamos nos braços da Maria o
valor das nossas preces e satisfações. Promete-nos em recompensa, um benefício mais
abundante a favor das almas que nos são queridas, do que no caso de lhes aplicarmos
diretamente as nossas orações” (Lhoumeau: Vida Espiritual na Escola de S. Luís Maria de
Montfort).
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[página 104]
18
ORDEM A OBSERVAR NA REUNIÃO DO PRAESIDIUM
1. Em todas as reuniões, a disposição deve ser uniforme. Os membros deverão
sentar-se em volta de uma mesa, numa das extremidades da qual se preparará, sobre uma
toalha branca, de dimensões convenientes, um pequenino altar com a imagem (de cerca de
60 cm de altura) da Imaculada Conceição na atitude de distribuidora de todas as graças,
ladeada de duas jarras de flores, e dois castiçais com velas acesas. Em frente da imagem,
mas um pouco à direita, será colocado o Vexillum, cuja descrição vem no capítulo 27.
Neste Manual encontrará o leitor fotografias da disposição do altar e do Vexillum.
O objetivo de uma tal disposição é representar a Rainha no meio dos seus soldados;
por isso, o altar não deve estar separado da mesa da reunião, nem colocado fora do círculo
dos membros.
O amor filial que devemos à nossa mãe celeste exige que o material e as flores
sejam de qualidade tão boa quanto possível. A despesa com o material não deve oferecer
dificuldades, visto não ser freqüente. Talvez se encontre um benfeitor ou uma pessoa de
posses que ofereça ao Praesidium, vasos e castiçais de prata. Alguém, entre os legionários,
deverá assumir a responsabilidade de conservar limpos e reluzentes, os vasos e os castiçais
e devidamente enfeitados de flores e de velas, compradas à custa do Praesidium.
Se for absolutamente impossível obter flores naturais, é permitido o uso de flores
artificiais, a que se ajuntará algumas folhas verdes para termos assim um elemento da
natureza viva.
Em regiões, onde seja necessário defender a chama das velas para que não se
apague, coloque-se na parte superior das mesmas globos transparentes de vidro.
Na toalha poderão ser bordadas as palavras Legião de Maria, mas não o nome do
Praesidium. Importa pôr em relevo a unidade e não a distinção.
“A mediação de Maria está intimamente ligada à sua maternidade e possui caráter
especificamente maternal, que a distingue da mediação das outras criaturas que, de
diferentes modos e sempre subordinados, participam da única mediação de Cristo;
também a mediação de Maria permanece subordinada. Se, na realidade, “nenhuma
criatura pôde jamais colocar-se no mesmo plano
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 105]
que o Verbo Encarnado e Redentor”, também é verdade que “a mediação única do
Redentor não exclui, antes desperta nas criaturas cooperação multiforme, participada
dessa única fonte”; e assim, “a bondade de Deus, sendo uma só, difunde-se realmente, de
diferentes modos, pelos seres criados” (RMat 38).
2. A reunião começará pontualmente à hora marcada. Nesse momento todos os
membros devem estar nos seus lugares. Esta pontualidade, tão necessária ao bom
andamento do Praesidium, só é possível, se os Oficiais chegarem alguns minutos antes, o
tempo suficiente para fazerem os preparativos indispensáveis.
Nunca se começará uma reunião de Praesidium sem um programa escrito, chamado
Folha de Trabalho. Esta deve ser feita antes da reunião e por ela se orientará o Presidente ao
tratar dos diversos assuntos. Nela serão registrados pormenorizadamente todos os trabalhos
que estão sendo feitos pelo Praesidium com a indicação dos membros que deles foram
encarregados. Não é necessário seguir sempre a mesma ordem de assuntos, em todas as
reuniões; mas todos os membros devem ser chamados, um por um, a dar conta do trabalho
de que foram incumbidos, ainda que dois ou mais tenham participado da mesma atividade.
Providencie-se, antes do fim da reunião, para que cada membro receba o trabalho
para a semana seguinte.
O Presidente deverá ter um livro encadernado no qual escreverá todas as semanas a
Folha de Trabalho.
“Por mais fervoroso e absorvente que o ideal, nunca deve servir para justificar um
sentimentalismo vazio e sem utilidade prática. Como já foi notado, o gênio de Santo Inácio
consistia em explorar cuidadosa e organizadamente, as energias religiosas. O vapor é
inútil, mesmo incômodo, enquanto não for aproveitado por um cilindro e por um êmbolo.
Que desperdício de fervor espiritual, só porque não se sujeita a um exame minucioso, e
não se aplica isso a casos práticos! Mal aproveitados, quatro litros de gasolina podem
fazer ir pelos ares um automóvel; utilizados com competência, farão subir o carro até ao
cimo do monte” (Monsenhor Alfredo O’Rahilly: Vida do Padre Guilherme Doyle).
3. A reunião abre com a invocação e oração ao Espírito Santo, fonte daquela
graça, vida e amor, de que tanto nos alegramos em considerar Maria como canal.
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 106]
“Desde a hora em que concebeu o Filho de Deus em seu casto seio, Maria foi, por
assim dizer, revestida de uma espécie de autoridade de jurisdição sobre as ações
temporais do Espírito Santo, de tal sorte que nenhuma criatura recebe qualquer graça de
Deus, a não ser por seu intermédio. Todos os dons, virtudes e graças do Espírito Santo por
Ela são distribuídos a quem lhe agrada, quando lhe agrada e da maneira e na quantidade
que lhe agrada” (São Bernardino de Sena: Sermão sobre a Natividade).
[Nota: a última parte desta citação encontra-se quase ao pé da letra nas obras de
Santo Alberto Magno (Bíblia Mariana , Livro de Ester I), que viveu 200 anos antes de S.
Bernardino].
4. Segue-se a reza de cinco dezenas do Rosário. A primeira, terceira e quinta são
iniciadas pelo Diretor Espiritual. A segunda e quarta, pelos membros. Todos rezarão em
voz alta e com tanta dignidade e respeito, como se a Virgem Maria, a quem dirigem as suas
súplicas, estivesse visivelmente presente no lugar da imagem.
A devida reza da Ave-Maria exige que não se comece a segunda parte, antes de
terminada a primeira e de o nome de Jesus ter sido pronunciado com todo respeito. Visto
que o Rosário desempenha, quer como ponto de obrigação, quer como ato de piedade,
papel importantíssimo na vida dos legionários, fiquem eles aconselhados a inscreverem-se
na Confraria do Santíssimo Rosário (Cf. Apêndice 7).
O Papa Paulo VI insiste no dever de conservar o Rosário. É verdadeira oração. O
seu conteúdo é verdadeiramente bíblico. Resume efetivamente toda a história da salvação e
cumpre o propósito essencial de apresentar Maria nas diversas funções que desempenhou
nessa história.
“Entre as diversas formas de oração, nenhuma há mais excelente que o Rosário.
Resume todo o culto devido a Maria. É o remédio para todos os males e a raiz de todas as
bênçãos” (Leão XIII).
“De todas as orações, o Rosário é a mais bela, a mais rica em graças e a mais
agradável a Maria, a Virgem Santíssima. Amai, portanto, o Rosário e rezai-o devotamente
todos os dias da vossa vida; eis o testamento que vos deixo para que vos recordeis de
mim” (S. Pio X).
“Para os Cristãos, o Evangelho é o primeiro dos livros e o Rosário a síntese do
Evangelho” (Lacordaire).
Disposição do Altar Legionário
O altar não deve ficar fora do círculo da reunião
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 107]
“É impossível que as orações de muitos não sejam ouvidas, se essas orações
formam uma só oração. (S. Tomás de Aquino: Comentário ao Evangelho de S. Mateus,
18).
5. Após o Terço, segue-se imediatamente a Leitura Espiritual, feita pelo Diretor
Espiritual ou, na sua ausência, pelo Presidente. A sua duração não deve ultrapassar cinco
minutos. Embora a escolha da Leitura Espiritual seja livre, recomenda-se vivamente, ao
menos durante os primeiros anos de existência do Praesidium, a leitura do Manual, a fim de
familiarizar os membros com seu conteúdo e os animar a estudá-lo seriamente.
No fim da leitura, é costume fazer-se, em conjunto, o Sinal da Cruz.
“Maria é digna, sem dúvida alguma, de tais palavras de bênção, pelo fato de se ter
tornado Mãe de Jesus segundo a carne (“Ditoso o ventre que te trouxe e os peitos a que
foste amamentado”); mas é digna delas também e sobretudo porque, logo desde o momento
da Anunciação, acolheu e acreditou na palavra de Deus e sempre foi obediente a Deus. Ela,
com efeito, “guardava” a palavra , meditava-a “no seu coração” (Cf. Lc 1, 38-45; 2, 19-51)
e cumpriu-a em toda a sua vida. Podemos, portanto, afirmar que as palavras de bemaventurança
pronunciadas por Jesus não se contrapõem, apesar das aparências, às que
foram proferidas pela mulher desconhecida; combinam, antes com elas na pessoa desta
Mãe Virgem, que a si mesma se designou simplesmente como “serva do Senhor” (Lc 1, 38)
(RMat 20).
6. Lê-se a ata da reunião anterior que, se aprovada pelos presentes, é assinada
pelo Presidente. A ata não será longa nem breve demais mas de bom tamanho; as reuniões
serão designadas pelo número correspondente.
Salientamos já, no capítulo referente ao Secretário, a importância da ata. Sendo esta
um dos primeiros assuntos a ser apresentado na reunião semanal do Praesidium, ocupa,
digamos assim, uma posição estratégica. Pelo seu conteúdo e pela forma como é lida,
exerce uma influência decisiva, positiva ou negativa, sobre o resto da reunião.
Atas bem feitas são como o bom exemplo; como o mau exemplo, se são mal feitas.
Redigidas com perfeição, se não se lêem como devem, têm de ser classificadas como sem
merecimento. O exemplo arrasta; e as atas, perfeitas ou imperfeitas, influenciam a atenção e
os relatórios dos membros, de tal modo
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 108]
que pode depender delas o bom êxito ou fracasso da reunião que, por sua vez, influenciará
o trabalho da semana.
Que o Secretário pondere estes motivos, enquanto se entrega ao trabalho silencioso
da preparação das atas; e que o Praesidium, para garantia da força da sua ação, exerça neste
assunto a máxima atenção.
“Seria certamente vergonhoso que, neste ponto, se verificassem as palavras de
Cristo: “Os filhos deste século são mais hábeis que os filhos da luz” (Lc 16, 8). Vede com
que zeloso cuidado aqueles tratam dos seus negócios e quantas vezes, e com que rigor,
fazem o balanço das suas contas, como lamentam as perdas e se resolvem energicamente a
recuperá-las” (S. Pio X).
7. Ordem Permanente. A seguinte Ordem Permanente deve figurar na Folha de
Trabalho ou em outro lugar, de maneira a não passar despercebida no devido tempo e ser
lida em voz alta pelo Presidente, na primeira reunião de cada mês, imediatamente depois da
assinatura da ata.
Instrução Permanente
“O Serviço Legionário exige de cada membro da Legião:
Primeiro: A assistência pontual e regular à reunião semanal do Praesidium, onde
deve apresentar em voz alta e compreensível o relatório exato do trabalho realizado.
Segundo: A reza diária da Catena.
Terceiro: A execução de um trabalho legionário, ativo e bem definido, em espírito
de fé e união com Maria, de tal forma que, pelo legionário, seja Maria, a Mãe de Jesus, que
mais uma vez contemple e sirva a pessoa Adorável de seu divino Filho, naqueles por quem
o legionário trabalha e nos seus colegas de ação.
Quarto: Segredo absoluto sobre os assuntos tratados em reunião ou conhecidos na
realização da atividade legionária”.
“Por meu intermédio, Maria deseja também amar a Jesus, no coração daqueles a
quem eu posso inflamar de amor com o meu apostolado e com as minhas orações
contínuas. Se me identificar inteiramente com ela, serei coberto tão abundantemente de
suas graças e de seu amor, que me tornarei como um rio caudaloso, capaz de, por minha
vez, transbordar sobre outras almas. Por mim, Maria poderá amar a Jesus e enchê-lo de
alegria, não só por meio
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 109]
do meu coração mas também por meio dos inumeráveis corações unidos ao meu” (De
Jaegher: A virtude da Confiança. Esta citação não faz parte da Ordem Permanente).
8. Relatório do Tesoureiro. O Tesoureiro deve apresentar todas as semanas o
relatório da situação financeira do Praesidium, expondo as entradas e despesas havidas
desde a última reunião e o saldo em caixa.
“As pessoas perdem-se muitas vezes porque não há dinheiro suficiente para se
investir no apostolado” (Mellet, C.S. Sp.).
9. Apresentação dos relatórios dos trabalhos. Os membros, sentados, apresentam
de viva voz, os relatórios dos seus trabalhos, podendo servir-se, se for preciso, de
apontamentos.
O Praesidium não deixará passar, como coisa natural e de pouca importância, a falta
de execução do trabalho legionário. Quando alguém, por uma razão válida, não tiver podido
desempenhar-se da sua tarefa, deve, sendo possível, apresentar uma explicação. A falta não
justificada de um relatório causa nos demais membros uma impressão de desleixo no
cumprimento do dever, e constitui um mau exemplo para todos os membros.
Trabalhem os legionários com seriedade e poucas vezes surgirá a necessidade de se
desculparem; e ainda bem, porque num ambiente de desculpas enfraquecem-se o zelo e a
disciplina.
O relatório não deve ser dirigido só ao Presidente. É que é importante levar em
conta um certo processo mental. Quando uma pessoa fala com outra individualmente, a voz
ajusta-se automaticamente à distância que as separa e não mais. Isto poderia significar que
as palavras dirigidas ao Presidente seriam ouvidas com dificuldade pelas pessoas a maior
distância.
O relatório bem como toda a discussão sobre o mesmo devem fazer-se num tom de
voz que possa ser ouvido por toda a sala. O relatório que, apesar da sua perfeição e
fidelidade, não é ouvido por muitos dos presentes, torna-se pior, pelo seu efeito cansativo,
do que a sua falta pura e simples. Falar em voz baixa não é sinal nem de humildade nem de
boas maneiras, como alguns podem imaginar. Quem igualou jamais a simplicidade e a
delicadeza de Maria? E, todavia, quem ousaria imaginá-la falando entre dentes ou de forma
que as suas palavras não pudessem ser ouvidas pelas pessoas que a rodeavam? Legionários,
nisto como em tudo, imitem a sua Rainha.
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 110]
Os Presidentes não devem admitir relatórios que exijam esforço para serem ouvidos.
Mostrem-se, por isso, eles próprios, não merecedores de qualquer crítica. É o Presidente
que dá o tom aos membros, os quais, em geral, falam ainda mais baixo do que ele. Se, pois,
o Presidente fala em tom baixo ou de conversa, os outros hão de responder-lhe em voz
sumida, julgando que estão a gritar, se levantarem a voz mais do que ele. Os membros
devem insistir com todos, inclusive com o Presidente, para que falem alto. Como médico,
que o Diretor Espiritual peça a todos, por sua vez, para se fazerem ouvir perfeitamente,
pois, criar boas condições para que todos ouçam, é essencial à saúde do Praesidium.
Pela sua função própria, o relatório é tão importante para a reunião como as orações.
São dois elementos que mutuamente se completam, ambos necessários à reunião.
O relatório une o trabalho ao Praesidium. Deve ser, por conseqüência, uma clara
exposição das atividades do legionário – tão viva, em certo sentido, como a projeção de um
filme – de forma a envolver mentalmente os outros no trabalho apresentado, quer julgandoo,
quer comentando-o, quer tirando lições apropriadas. Por conseguinte, o relatório há de
revelar o que se tentou fazer, o que se fez de fato, e com que espírito; o tempo empregado;
os métodos utilizados; o que não se conseguiu, e as pessoas com quem não se chegou a
falar.
A reunião será alegre e animada. Por isso, os relatórios serão, ao mesmo tempo, um
motivo de interesse e uma fonte de informação. Se a reunião se torna demasiadamente
pesada, é sinal muito claro de que o Praesidium não marcha como deve. Resultado: os
jovens não entram.
Há trabalhos de tal variedade, que fornecem matéria abundante para relatórios
interessantíssimos; mas outros existem sem as mesmas possibilidades. Torna-se pois
indispensável aproveitar tudo quanto saia fora do comum, embora pareça insignificante,
para dar cor e vida à exposição.
O relatório não deve ser nem longo nem breve demais, e sobretudo, nada de frases
sempre iguais. Uma tendência em qualquer destes sentidos provaria não só que o membro
se descuida no cumprimento do seu dever, mas que os outros colaboram com o seu
descuido. Tal procedimento vai de encontro ao propósito legionário da orientação do
trabalho. O Praesidium não poderá orientar as atividades, a não ser que esteja perfeitamente
informado sobre elas.
O trabalho da Legião é, em geral, tão difícil que se os membros não forem animados
pelo exame cuidadoso que a assembléia
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 111]
faz dos seus esforços, podem cair no relaxamento. Ora, tal não deve acontecer. Eles
ingressaram na Legião para fazer o maior bem possível e é, provavelmente, nos casos em
que as limitações pessoais mais se fazem sentir, que o seu trabalho é mais necessário. Ora,
é a disciplina legionária que levará o membro a vencer as próprias fraquezas e a cumprir até
o fim o seu dever, disciplina que se exerce sobretudo, através da reunião. Se os relatórios
fornecerem apenas vagas informações, vago será também o controle do Praesidium sobre as
atividades do membro. Conseqüência inevitável: o Praesidium não o anima nem o defende.
O membro perderá o interesse e a orientação do Praesidium, realidade vitais que não podem
ser dispensadas. A disciplina legionária perde a sua influência salvadora sobre o membro,
com maus resultados, quer para o interessado, quer para o grupo de que faz parte.
Nunca esqueçamos que um relatório mal feito arrastará outros no mesmo sentido; é
assim a lei da imitação. Pessoas com ótimos desejos de servir a Legião acabarão por
prejudicá-la tragicamente.
Nenhum legionário se contentará com apresentar apenas um bom relatório. Porque
não desejar chegar mais alto e ajuntar por vontade própria, ao cumprimento perfeito do
trabalho, um relatório que possa servir de modelo? Desta forma, colabora-se na formação
dos outros membros, quer no que se refere à realização do trabalho legionário, quer ao
modo de relatá-lo. “O exemplo”, diz Edmund Burke, “é a escola do gênero humano, que
não tem outra”. Procedendo assim, um só indivíduo pode erguer um Praesidium ao mais
elevado grau de eficiência. É que os relatórios, embora não passem de um dos numerosos
elementos da reunião, exercem uma tal influência no conjunto, que, por simpatia, tudo
reage com eles, para melhor ou para pior.
Apontamos já acima Nossa Senhora como motivo de inspiração para um aspecto do
relatório. Mas pensar nela pode ser uma ajuda em qualquer outro aspecto. Um olhar para a
sua imagem, antes de começar o relatório, garantirá essa ajuda. É indiscutível que todo
aquele que procurar fazer um relatório como, em seu pensar, Nossa Senhora o faria, não
poderá deixar de apresentá-lo perfeito sob todos os pontos de vista.
“Certos cristãos apenas vêem em Maria uma criatura de beleza e graça
incomparáveis, a mulher mais terna e amável que jamais existiu. Arriscam-se, assim, a não
ter para com ela senão uma devoção sentimental ou, – se são de bom caráter – a sentir-se
pouco
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 112]
atraídos pela mãe de Deus. Nunca repararam que esta Virgem tão terna e esta Mãe tão
carinhosa é também a Mulher forte por excelência, e que nunca homem algum a igualou
em fortaleza de caráter. (E. Neubert: Maria no Dogma).
10. A Catena Legionis (Cf. Capítulo 22: Orações da Legião) será rezada por todos,
de pé, no momento fixado, mais ou menos a meio do tempo que vai da assinatura da Ata ao
fim da reunião, ou seja, numa reunião normal de hora e meia, uma hora depois do início.
A antífona é rezada por todos; o Magnificat, alternado pelo Diretor Espiritual (ou,
na sua ausência, pelo Presidente) com os assistentes; e a oração final só pelo Diretor
Espiritual (ou Presidente).
O Sinal da Cruz não se faz antes da Catena, mas é feito por todos por ocasião da
reza do primeiro versículo do Magnificat. Não se faz depois da Oração, porque se segue
imediatamente a Alocução.
Nada há mais belo na Legião do que a reza comunitária da Catena. Quer o
Praesidium se encontre cheio de júbilo ou mergulhado na tristeza, quer ande penosamente
pelos caminhos estreitos do dia-dia, a Catena vem como brisa do céu, cheia dos perfumes
daquela que é a rosa e o lírio dos vales, trazer a todos, maravilhosamente, o frescor e a
alegria. Isto não é apenas uma descrição graciosa, mas uma realidade que dá para sentir –
como muito bem o sabem todos os legionários!
“Se insisto no Magnificat, é que vejo nele, mais do que comumente se pensa, um
documento de excepcional importância para a maternidade espiritual de Maria. A Virgem
Santíssima unida a Cristo desde o momento da Encarnação do Verbo, declara-se
representante de gênero humano, intimamente associada “a todas as gerações” e ao
destino de Seus verdadeiros filhos. Este Cântico é o hino da sua maternidade espiritual”
(Bernard, O.P.: O Mistério de Maria).
“O Magnificat é a oração por excelência de Maria, o cântico dos tempos
messiânicos no qual se encontram a exaltação do antigo e do novo Israel, pois conforme
parece querer sugerir S. Irineu, no cântico de Maria, é lembrado o júbilo de Abraão, que
pressentia o Messias (cf. Jo 8, 56), e ressoou, profeticamente antecipada, a voz da Igreja...
Este cântico da Virgem Santíssima na verdade, prolongando-se, tornou-se oração da
Igreja inteira, em todos os tempos” (MCul 18).
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 113]
11. Alocução(1). Depois de todos se assentarem, o Diretor Espiritual lhes dirigirá
uma breve alocução. Esta tomará a forma de comentário ao Manual, a não ser que
circunstâncias extraordinárias exijam outra coisa, afim de que os membros se familiarizem
com o seu conteúdo, em todos os pormenores. Os membros deverão tê-la em grande
consideração, pois desempenha papel importantíssimo na sua formação e progresso. Os
responsáveis por tal formação cometem uma injustiça para com os membros e para com a
Legião, se não procuram tirar deles o rendimento máximo. Para isso, torna-se
absolutamente necessário dar-lhes um conhecimento perfeito da organização. O estudo do
Manual é um meio excelente, mas nunca poderá substituir a Alocução. Alguns legionários
pensam ter estudado o Manual de modo satisfatório só porque o leram atentamente duas ou
três vezes. Ora nem dez nem vinte leituras darão a conhecer a Legião como ela deseja ser
conhecida. Tal objetivo só se conseguirá à força de muitas explicações e comentários orais,
semana após semana, ano após ano, quando todos os membros se familiarizarem
completamente com as idéias nele contidas.
(1) Alocução era o discurso do General Romano aos seus legionários.
Na ausência do Diretor Espiritual, o comentário fica a cargo do Presidente ou de
outro membro por este designado. A simples leitura do Manual, ou de qualquer outro
documento, insistimos, não pode substituir a alocução.
A alocução não deverá ultrapassar cinco ou seis minutos.
A diferença, entre o Praesidium em que a Alocução é bem feita, e o Praesidium em
que é mal feita, é profunda: ou seja, de um lado um exército instruído e disciplinado e, do
outro, um corpo de tropas sem treino nem lei.
“Tenho, desde há muito tempo, o pressentimento de que, à medida que o mundo vai
piorando e Deus é, por assim dizer, afastado dos corações dos homens, o mesmo Senhor
espera ansiosamente grandes feitos de quantos lhe permanecem fiéis. Talvez não possa
juntar à volta do seu Estandarte um exército numeroso, mas quer que cada um seja um
herói, entregando-se inteira e amorosamente à sua causa. Se nós pudéssemos entrar neste
círculo mágico de almas generosas, creio não haver graça que ele não derramasse sobre
nós para nos ajudar no trabalho tão querido do seu coração: a nossa santificação
pessoal” (Alfredo O’ Rahilly: Vida do Padre Guilherme Doyle).
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 114]
12. Terminada a Alocução, toda a assistência faz o Sinal da Cruz, e retomam-se de
novo os relatórios e os outros assuntos da reunião.
“O fato histórico é que a fala de Nossa Senhora era a fala de uma mulher
extraordinariamente educada. A sua inclinação natural faria dela, com facilidade, uma
poetisa. De cada vez que falou, as suas palavras fluíram em ritmo poético. A sua frase era
a linguagem graciosa dos artistas da palavra” (Lord: Nossa Senhora no Mundo Moderno)
13. Coleta secreta. Imediatamente após a Alocução faz-se a coleta secreta,
contribuindo cada um conforme as suas posses. Esta tem por fim pagar as despesas do
Praesidium e ajudar a Curia e os Conselhos superiores a enfrentar as suas obrigações. Eles
não dispõem de outros meios para se manterem, desempenharem as suas funções de
dirigirem e expandirem a Legião, senão a soma recebida dos Praesidia (Ver cap. 35
“Receitas e Despesas”).
A coleta não deve interromper o curso da reunião. Passam a bolsa uns aos outros
com naturalidade e, mesmo que não possam contribuir com coisa alguma, todos devem
colocar a mão dentro dela.
Haverá para isso uma bolsa própria. Não convém usar, para tal fim, uma luva ou um
saco de papel.
A coleta é secreta, porque é necessário pôr no mesmo plano, perante o Praesidium,
os membros que têm meios e aqueles que não os têm. Por isso, respeite-se o seu caráter
secreto: nenhum membro pode revelar a outro o valor da sua contribuição. Por outro lado,
todos devem compreender que não só o Praesidium, mas a Legião inteira dependem, no seu
funcionamento e progresso, do donativo de cada legionário. Por isso, não se considere o
fato como mera formalidade. A obrigação de contribuir não fica cumprida, dando uma
quantia tão pequena que ela nada signifique para o doador. A este é dado o privilégio de
participar, ao longe, na missão da Legião. O ato de contribuir para a fundo comum é um
dos meios de exercer o sentido da responsabilidade e da generosidade.
Só é secreta a contribuição pessoal. A soma total pode ser anunciada; deve
evidentemente ser registrada nos livros e ser comunicada ao Praesidium.
“Quando Jesus louvou a oferenda da viúva, “que dá, não do que lhe sobra, mas da sua
mesma pobreza” (Lc 21, 3-40), somos levados
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[Capítulo 18 Ordem a Observar na Reunião do Praesidium página 115]
a pensar que Jesus tinha na mente Maria, Sua Mãe” (Orsini: História da Santíssima
Virgem).
14. Fim da reunião. Uma vez tratados todos os assuntos, inclusive feita a
distribuição do trabalho e a marcação das presenças, a reunião termina com as Orações
Finais e a bênção do Sacerdote.
Não deve durar mais de hora e meia, contada a partir do momento estabelecido
para começar.
“Digo-vos ainda que, se dois de vós se reunirem sobre a terra a pedir qualquer
coisa, esta lhe será concedida por Meu Pai que está nos céus. Porque, onde se acham dois
ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18, 19-20).
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A REUNIÃO E O MEMBRO
1. Respeito pela reunião. Na ordem natural a transmissão da energia depende do
estabelecimento ou do rompimento de uma ligação. Assim acontece também na Legião de
Maria: a falha num só ponto pode ser fatal. Poderá um membro assistir às reuniões e,
todavia, partilhar pouco ou nada do entusiasmo, da generosidade e da força que, como
acima dissemos, constituem a vida legionária. Deve existir união entre a reunião e o
membro, para o que não basta a simples assistência material. Exige-se, além desta, a
presença de um elemento que ligue verdadeiramente o membro à reunião: esse elemento é o
respeito. Na organização legionária, tudo depende do respeito do membro pela reunião;
respeito que se manifesta pela obediência, fidelidade e estima.
2. O Praesidium deve merecer este respeito. Uma organização, cujos ideais não se
elevam acima do nível médio dos seus membros, está com falta da primeira qualidade de
um líder, e não se fará respeitar por muito tempo.
3. O Praesidium deve respeitar os regulamentos. A vida legionária comunica-se
aos membros na medida em que cada um respeita o Praesidium. Consistindo esta vida,
essencialmente, num generoso esforço para atingir a perfeição, o Praesidium deve es-
115
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 116]
forçar-se por merecer o máximo respeito, a fim de exercer sobre todos a mais benéfica
influência. O Praesidium, que reclama dos seus membros um respeito que ele mesmo não
tem às regras pelas quais se orienta, procura construir sobre a areia. Eis a razão por que, nas
páginas deste Manual, insistimos tanto na necessidade de seguir à risca a ordem traçada
para as reuniões e em geral, os processos que expomos.
4. O Praesidium deve ser modelo de firmeza. A Legião exige que tudo quanto se
diz e se faz nas reuniões sirva de exemplo a todos, mesmo aos mais zelosos dos membros.
Dados os múltiplos aspectos da vida do Praesidium, não se torna coisa difícil. O legionário,
individualmente, pode ver-se, de momento, impedido de cumprir os seus deveres, seja por
doença, seja por gozo de férias, seja por circunstâncias inevitáveis: o Praesidium, porém,
composto de elementos vários, nunca impedidos todos ao mesmo tempo, fica acima de tais
limitações.
A reunião semanal nunca deve deixar de realizar-se, a não ser por impossibilidade
absoluta. Se é realmente impossível reunir no dia habitual, transfere-se a reunião para outro
dia. O fato de grande número de membros não poder estar presente não é motivo para a
suprimir. É melhor reunir, embora em número reduzido, do que não reunir. Pouco se
resolverá, com certeza, em tal reunião, mas o Praesidium desempenhou-se de um dos seus
mais importantes deveres. E os assuntos tratados nas reuniões seguintes hão de lucrar
grandemente, dado o profundo respeito instintivamente sentido por todos para com o
Praesidium, que marcha avante, acima dos elementos que o compõem, firme no meio das
suas fraquezas, dos seus erros e dos seus compromissos variados, refletindo assim, embora
palidamente, a característica principal da Igreja.
5. Aquecimento e luz. A sala das reuniões deve estar bem iluminada e a uma
temperatura agradável. O descuido neste ponto converterá a reunião em penitência, quando
devia ser um prazer, e prejudicará fatalmente o futuro do Praesidium.
6. Assentos. Tenha-se o cuidado de que haja cadeiras ou, ao menos, bancos, para se
sentarem. Se os membros se sentam aqui e ali, em carteiras escolares ou em outros assentos
improvisados, cria-se um ambiente de desordem, com que o espírito da Legião, que é um
espírito de ordem, nada terá a lucrar.
116
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 117]
7. Os Praesidia devem se reunir em horas convenientes. O fato de que a maior
parte das pessoas trabalha durante o dia, exige que as reuniões se façam geralmente à
noitinha ou no Domingo. Mas por outro lado, há muitos que trabalham à tardinha e de noite
e importa considerar isso, marcando as reuniões em horas que lhes convenham.
Devemos ter igualmente em consideração os que trabalham por turnos, isto é,
aqueles cujas horas de trabalho, mudam periodicamente. Dois Praesidia com horas de
reunião bem distanciadas podem cooperar para os receber. Estes legionários participarão
uma semana em um, outra semana em outro, à reunião dos Praesidia, conforme o seu tempo
livre. Para se assegurar da continuidade da sua presença e do seu trabalho, os Praesidia
precisam de se manter em estreito contato um com o outro.
8. Duração das reuniões. A reunião não durará mais de hora e meia, a contar do
momento da abertura. Se acontece que, apesar de uma eficiente direção da reunião, com o
seu encerramento automático, certos assuntos têm de ser interrompidos com freqüência ou
tratados apressadamente, é sinal de que o Praesidium tem trabalho excessivo e, neste caso ,
convém pensar no seu desmembramento.
9. Duração insuficiente das reuniões. Não está determinada a duração mínima da
reunião. No entanto, se esta durasse normalmente menos de uma hora – sendo meia hora
ocupada pelas orações, leitura espiritual, ata e alocução – tinha fatalmente de apresentar
algum defeito, que seria preciso curar, quer isso acontecesse por causa do pequeno número
de membros, quer pela quantidade insuficiente de trabalho, quer pela qualidade inferior dos
relatórios. Nos meios industriais, seria considerado erro grave de método, o fato de não se
tirar das máquinas o rendimento máximo, quando os mercados não faltam. Do mesmo
modo, é preciso tirar o melhor rendimento possível da organização legionária. Quem ousará
insinuar que não há necessidade do mais elevado rendimento possível na ordem espiritual?
10. Chegada ou partida fora de hora. Os atrasados para as Orações Iniciais
deverão ajoelhar e rezar a sós, as orações que precedem o Terço e as invocações que se lhe
seguem. Mas faltar ao Terço constitui uma perda irreparável. De qualquer modo, quem
tiver de sair antes do final da reunião pedirá licença ao Pré-
117
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 118]
sidente e, concedida esta, deverá ajoelhar e rezar a oração “A vós recorremos” e as outras
invocações finais da Tessera.
Nunca, em circunstâncias alguma, se permitirá que um membro chegue tarde ou
parta antes do fim da reunião de modo habitual. Pode-se, é certo, trabalhar e apresentar o
respectivo relatório, mas a indiferença com que se falta às orações iniciais ou finais da
reunião revela uma mentalidade desinteressada ou mesmo agressiva ao espírito da Legião,
que é espírito de oração. A presença de tal membro traz mais prejuízo que proveito.
11. A boa ordem, raiz da disciplina. Sem espírito de disciplina, a reunião é como
uma cabeça lúcida num corpo paralisado, incapaz de controlar os excessos dos membros,
de os estimular e de os formar. A Legião conta, por isso, para desenvolver o espírito de
disciplina:
a) com a conformidade exata com o quadro regulamentar da reunião;
b) com a exposição ordenada, ponto por ponto, dos assuntos da Folha da Trabalho;
c) com a fidelidade com que estes devem ser tratados de harmonia com o Manual;
d) e com o espírito marcadamente mariano, como incentivo desta ordem. Sem
disciplina, os membros se deixarão arrastar pela tendência muito humana de trabalharem
isolados; de evitarem, quanto possível, o controle dos trabalhos; de se entregarem a obras
ditadas pelo capricho de momento e de as fazerem como quiserem. Que bons frutos se
poderão esperar de tal procedimento?
Ao contrário, na disciplina voluntariamente aceita e consagrada às causas de Deus,
reside uma das mais poderosas forças do mundo. E esta disciplina torna-se irresistível,
quando usada com firmeza, mas sem rigidez, e em perfeita harmonia com a Autoridade da
Igreja.
No seu característico espírito de disciplina, possui a Legião um tesouro, de que
outros, fora dela, podem se beneficiar. Graça sem medida, num mundo que se agita
inutilmente entre dois pólos opostos, o tudo proibir e o tudo permitir. A falta de disciplina
interior pode disfarçar-se debaixo de uma disciplina exterior sólida, produto da tradição ou
da força. Quando os indivíduos ou as coletividades dependem apenas desta disciplina
externa são derrotados tragicamente, se a disciplina interior se frustra, como acontece nos
momentos de crise. A afirmação da importância da disciplina interior sobre todo o sistema
de disciplina externa não significa, porém, que esta não tenha valor. Na
118
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 119]
realidade, uma exige a outra. Quando as duas se entrelaçam, em devidas proporções, com o
suave motivo de religião, dispomos de uma tríplice corda que – no dizer da Escritura – “não
se romperá com facilidade” (Ecl 4,12).
12. Importância suprema da pontualidade. Sem pontualidade não se pode
cumprir o mandamento do Senhor: “Põe a tua casa em ordem” (Is 38, 1). A organização
que admite a desordem na formação dos seus membros, concorre para a sua perversão.
Além disso, perde o direito ao respeito, que é a base de toda a reta educação e disciplina. A
desconsideração deste princípio vital, que poderia ser tão facilmente remediado, só é
comparável à conhecida falta de responsabilidade do comandante que deixa afundar o navio
por não querer jogar fora um pouco da carga.
Coloca-se, por vezes, em cima da mesa, com todo o cuidado, um relógio, que não
exerce a mais leve influência no curso da reunião. Se, noutros casos, desempenha algum
papel, é apenas quanto ao princípio, meio e fim da reunião, e não quanto ao controle dos
relatórios e de outros assuntos. Ora, o princípio da pontualidade e da ordem deve aplicar-se
a todos os pontos da Folha de Trabalho, desde o início até ao fim.
Se os Oficiais não respeitam estas diretrizes, os membros devem protestar, caso
contrário, estarão a ajudá-los e tornando-se também responsáveis por essa falha.
13. Como rezar as orações. Há almas impetuosas que têm dificuldade em conterse,
mesmo na forma de rezar. Semelhante incorreção, vinda sobretudo de pessoas de
autoridade, pode arrastar o Praesidium inteiro para uma maneira de rezar que se aproxima
do desrespeito. Se há, de fato, uma falta mais ou menos geral, é a excessiva pressa com que
se rezam as orações, parecendo desprezar a norma legionária que manda rezar como se
Nossa Senhora estivesse visivelmente presente no lugar da sua imagem.
14. As orações fazem parte integrante da reunião. Por diversas vezes se tem
sugerido a conveniência de rezar o Terço diante do Santíssimo Sacramento, dirigindo-se em
seguida os membros para o local da reunião. Não se pode admitir tal proposta, pela
necessidade de salvaguardar a unidade da reunião, que a organização legionária considera
essencial. Formando a reunião uma unidade inseparável, todos os assuntos nela tratados
recebem uma singular marca de oração – fecundíssima em heroísmo e esforço; e tal
característica se perderia, se a maior parte das orações fosse rezada noutro lugar. Essa
mudança trans-
119
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 120]
formaria por completo o caráter da reunião e, conseqüentemente, o da própria Legião, que
nela se alicerça. Por mais consideráveis que fossem nesse caso os méritos da organização,
não se trataria já da Legião de Maria. Torna-se, por isso, desnecessário declarar também
que a retirada do Terço ou de qualquer outra oração da Tessera – quaisquer que sejam as
circunstâncias – é ainda menos aceitável. O Terço é para a reunião legionária o que a
respiração é para o corpo humano.
15. Os exercícios de culto e a reunião. Pelas razões já apontadas, um Praesidium,
que rezou as orações da Legião na igreja ou numa função que antecedeu a reunião, é
obrigado a rezar de novo por inteiro as orações da Legião na reunião do Praesidium.
16. Orações especiais na reunião. Pergunta-se freqüentemente se é permitido
oferecer as orações da reunião por intenções especiais. Como os pedidos são numerosos
torna-se necessário esclarecer este assunto: – a) Se se trata de oferecer as orações normais
da reunião por intenções especiais, está decidido que tais preces devem ser oferecidas pelas
intenções da Santíssima Virgem, Rainha da Legião, e por mais nenhuma intenção. b) Se se
trata de ajuntar outras orações por uma intenção particular, às orações da Legião, está
resolvido que, sendo as orações prescritas já bastante longas, não devem, de modo habitual,
acrescentar-se mais. Admite-se, todavia, que uma vez ou outra, haja interesses de
excepcional importância para a Legião que reclamem súplicas extraordinárias e, nesse caso,
poderá ajuntar-se uma breve oração. Mas, insistimos, tais casos devem ser raríssimos. c) É
evidente, porém, que se podem recomendar intenções especiais à piedade particular dos
membros.
17. Os relatórios e a humildade. Muitos membros pretendem justificar a pobreza
dos seus relatórios, declarando que é contrário à humildade, fazer propaganda das nossas
boas obras. Há neste modo de pensar um orgulho disfarçado com capa de humildade, a que
os poetas chamam de pecado preferido do diabo. Cuidem pois, os legionários, para que em
tais sentimentos, em vez de humildade não se escondam as espertas armadilhas do orgulho
e um desejo não pequeno de esconder as atividades, próprias ao controle rigoroso do
Praesidium. A verdadeira humildade não tenderá, com certeza, a seguir uma falsa diretriz
que, ado-
120
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 121]
tada pelos demais, arrastaria o Praesidium ao abismo. Ao contrário, a simplicidade cristã
encoraja os membros a evitarem os seus gostos pessoais, a submeterem-se com docilidade
às regras e práticas da organização e a cumprirem plenamente seus deveres que, embora
individuais, não são menos necessárias à reunião da qual cada relatório é elemento
indispensável.
18. A harmonia, expressão de unidade. A harmonia é a exteriorização do espírito
de caridade e deve, por isso, reinar, como virtude maior, na reunião. A eficiência, como a
Legião a entende, não exclui a harmonia. O bem, realizado à sua custa, é de qualidade
duvidosa. Por isso, os legionários evitarão como verdadeira peste todas as faltas que lhe são
diretamente opostas, como o desejo de domínio, a crítica, o mau humor, o cinismo, e os
ares de superioridade que, mal entram na reunião, destroem a harmonia.
19. O trabalho individual interessa a todos. O modo como todos participam, por
igual, nas orações do princípio da reunião deve caracterizar a explanação dos assuntos
subseqüentes. Nada, portanto, de conversas particulares ou risos indevidos entre vizinhos.
Faça-se saber aos membros que cada caso é do interesse de todos os presentes e não só de
um ou dois nele diretamente envolvidos. Ouvindo os relatórios, os assistentes visitam em
espírito os lugares e pessoas por eles referidos. Sem esta convicção, o trabalho dos outros
será seguido apenas superficialmente. Ora, a todo instante, os legionários presentes deviam,
não só prestar aos fatos narrados, a atenção que se dá ao relato interessante de qualquer
trabalho, mas sentir-se intimamente, pessoalmente, ligados aos mesmos.
20. O segredo é de suma importância. A Instrução Permanente, que todos os
meses ressoa aos ouvidos dos membros, deve convencê-los da importância fundamental do
segredo, dentro da Legião.
Se é vergonhosa a falta de coragem no soldado, a traição é infinitamente pior. Ora, é
trair a Legião repetir fora o que se conheceu na reunião do Praesidium. Mas em tudo há um
justo limite. Encontram-se, por vezes, legionários exageradamente cuidadosos que
defendem, para proteger os interesses da caridade, que não se devem revelar ao Praesidium
os nomes em casos de afastamento dos deveres religiosos. Dentro desta sugestão,
aparentemente louvável, oculta-se um erro e uma ameaça à própria vida da Legião. Nestas
condições, o Praesidium não poderia trabalhar.
121
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 122]
Adotar tal maneira de agir seria contrário aos usos de todas as Sociedades, as quais
discutem livremente os casos que lhes dizem respeito.
A conclusão lógica de tal pretensão deveria levar os companheiros de visita a
guardarem segredo com prejuízo um do outro.
O centro de ação, do saber e da caridade, não está no indivíduo nem nos dois
visitantes, mas no Praesidium – a que devem referir-se, em pormenor, todos os casos de
rotina. Negar-lhe os relatórios é quebrar a unidade e, com a desculpa de defendê-los,
prejudicar os verdadeiros interesses da caridade.
Não há comparação com o caso do sacerdote, a quem as funções sagradas colocam
num plano diferente. O legionário na sua visita domiciliar, conhece apenas o que
conheceria qualquer pessoa de respeito, e que, as mais das vezes, corre já de boca em boca
entre os inquilinos do prédio ou os vizinhos do bairro.
Dispensar membros da obrigação de apresentarem os relatórios completos da
própria atividade é apagar a consciência do seu controle rigoroso, fator importantíssimo na
organização legionária. Sem ela não há possibilidade de dar um conselho ou diretriz
positiva, fazer uma apreciação, frustrando-se desta maneira o propósito essencial do
Praesidium. Torna-se impossível, além disso, a formação e proteção dos membros, ambas
baseadas no conteúdo dos relatórios. Tirem o relatório semanal detalhado, do trabalho dos
membros, e ficará aberta a porta a todo tipo de imprudências. Em casos deste tipo, não
deixem que as críticas recaiam injustamente sobre a Legião.
Pior ainda: com este proceder se enfraquecem os vínculos do próprio segredo.
Porque a garantia do segredo legionário – tão bem guardado até ao presente – está na
superioridade poderosa do Praesidium sobre os membros. Se esta superioridade diminui, os
vínculos do segredo enfraquecem. Numa palavra, o Praesidium é não só o centro da
caridade e da discrição mas também a sua defesa.
Os relatórios devem revestir-se do caráter de segredos de família, e, como tais, ser
discutidos com plena liberdade, até se provar que tenham sido revelados a pessoas
estranhas ao Praesidium. O remédio, então, consiste, não em omitir os relatórios, mas, com
caridade e firmeza, chamar a atenção de quem tiver cometido tal imprudência.
Há todavia, casos excepcionais, em que as circunstâncias podem aconselhar um
segredo absoluto. Recorra-se então ao Diretor Espiritual (ou, na sua ausência, a outro
conselheiro competente), que decidirá qual a maneira de proceder.
122
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 123]
21. Liberdade de discussão. Será lícito a alguém manifestar a sua discordância
com relação aos métodos empregados na reunião? A este respeito o ambiente do
Praesidium não deve ser rigoroso mas antes “familiar”. Aceitem-se, com reconhecimento,
as observações oportunas dos membros. Mas que elas não tomem nunca, é evidente, o tom
de desafio ou de falta de respeito para com os Oficiais.
22. A reunião, amparo da perseverança do membro. É próprio do homem desejar
com impaciência os frutos visíveis de suas canseiras, e mostrar-se, em seguida, descontente
com os resultados. Ora, os resultados palpáveis são sinal pouco seguro do sucesso de uma
obra. A tal membro, basta-lhe estender a mão para a recolher cheia; mas um outro, depois
de um trabalho que exigiu uma dedicação heróica, acha-se de mãos vazias. O sentimento de
haver gasto em vão os seus esforços leva ao desânimo e à desistência da obra. Qualquer
empreendimento, avaliado só pelos resultados aparentes, é, portanto, areia movediça,
incapaz de sustentar por muito tempo os membros da organização. Ora, é absolutamente
necessário um apoio sólido. O legionário o encontrará em tudo aquilo que caracteriza a
reunião do Praesidium: riqueza de oração, cerimonial próprio, ambiente particular,
relatórios semanais dos trabalhos realizados, santa camaradagem, força da disciplina, vivo
interesse e até a ordem e a limpeza.
Na reunião, nada gera o sentimento de havermos trabalhado inutilmente; nada tende
a enfraquecer os vínculos legionários, pelo contrário, tudo contribui para os estreitar cada
vez mais. E à medida que as reuniões vão acontecendo, umas após outras, criam em nós a
impressão de uma máquina que, rodando com suavidade, atinge infalivelmente o seu fim,
dando aos membros a firme garantia de um trabalho frutuoso, garantia de que depende a
sua perseverança.
Abram os legionários, os horizontes do espírito e vejam neste mecanismo, que é a
Legião, a máquina de guerra de que Maria quer valer-se para estender o reinado de seu
divino Filho. São eles as peças desta máquina, cujo funcionamento depende do ajuste
voluntário e generoso de cada um. Se forem fiéis às suas obrigações, a máquina trabalhará
perfeitamente e a Santíssima Virgem há de utilizá-la para realizar os seus projetos. Os
resultados serão excelentes, pois “só Maria conhece plenamente o que resulta em maior
glória de Deus” (S. Luís de Montfort).
123
[Capítulo 19 A Reunião e o Membro página 124]
23. O Praesidium é uma “presença” de Maria. Os conselhos dados neste capítulo
destinam-se a uma mais perfeita integração dos indivíduos num organismo de enormes
potencialidades no apostolado oficial e pastoral da Igreja. A relação entre este apostolado
coletivo e o apostolado individual é comparável à relação entre a liturgia e a oração
particular.
Este apostolado está unido à Maria que “deu à luz do mundo a própria Vida que
tudo renova” e é sustentado pelos seus cuidados maternais. “Deus adornou-a com dignos de
uma tão grande missão” (LG 56). Maria continua a exercer essa missão pelo ministério de
quantos estejam dispostos a ajudá-la. O Praesidium coloca à sua disposição um grupo de
pessoas, ansiosas por ajudá-la na Sua função. Maria aceitará com certeza esta ajuda.
Podemos, pois, imaginar que um Praesidium é como uma Presença local de Maria; por ele
distribuirá suas graças especiais e reproduzirá a sua maternidade. É justo esperar, por isso,
que um Praesidium, fiel aos seus ideais, espalhará à sua volta, vida, renovação, remédios e
soluções. Os lugares com problemas deveriam aplicar este princípio espiritual.
“Meu filho..., mete os teus pés nas suas correntes e o teu pescoço nas suas cadeias.
Baixa o teu ombro e leva-a às costas, e não te desgostes com os seus vínculos. Aproxima-te
dela de todo o teu coração, e guarda os seus caminhos com todas as tuas forças... E a suas
correntes serão para ti uma forte proteção e um firme apoio, e as suas cadeias um vestido
de glória; porque nela está a beleza da vida e os seus vínculos são uma ligadura salutar”
(Eclo 6, 25-30).
20
O SISTEMA LEGIONÁRIO NÃO DEVE SER ALTERADO
1. A Legião faz saber aos seus membros que não tem a liberdade de mudar ou
variar, como lhes agrade, os seus regulamentos e práticas. O sistema legionário é este – e
não outro. Qualquer mudança, por menor que pareça, arrasta inevitavelmente a
124
[Capítulo 20 O Sistema Não Deve Ser Alterado página 125]
outras, a ponto de nos encontrarmos dentro de pouco tempo, perante um organismo que de
Legião pouco ou nada terá a não ser o nome. A Legião não hesitaria em desaprovar tal
organismo, por mais valioso que fosse, em si o trabalho que realizasse.
2. A experiência tem demonstrado que o nome de uma organização representa,
muito pouco para certas pessoas que consideram tirania o sistema que não lhes permite
cobrir com a sua bandeira as caprichosas invenções da sua imaginação.
Às vezes os “modernizadores” tentam alterar quase tudo na Legião, conservando,
entretanto, o seu nome. Não se darão eles conta de que a transferência ilegal para a sua
posse, da posição e da qualidade de membros da Legião, seria o pior dos roubos, visto ser
de ordem espiritual?
3. Há localidades – como há, também, pessoas – inclinadas a admitir que vivem fora
do comum, e que o seu caso merece legislação especial. Daí, os pedidos que de vez em
quando nos dirigem para que o sistema da Legião se ajuste a circunstâncias julgadas
extraordinárias. O atendimento de tais pedidos, traria desastrosas conseqüências. É que, de
um modo geral, essas petições provêm, não da necessidade (pois a Legião manifestou já a
sua universal capacidade de adaptação), mas da atuação de um falso espírito de
independência que, em vez de atrair as bênçãos do Céu, terá como resultado a ruína do
organismo. Como, todavia, nem sempre é possível convencer toda a gente de que isto é
assim, saibam ao menos aqueles que se dão o direito de interpretar pessoalmente os
regulamentos legionários, que a sua própria honra os obriga a não cobrir os seus ajustes
com o nome da Legião.
4. Além disso, a imitação de alguns elementos do sistema legionário, que certos
grupos tentam praticar, nunca consegue comunicar a doçura e a inspiração próprias do
original. O resultado vulgar duma tal operação cirúrgica é um cadáver ou, na melhor das
hipóteses, uma bela máquina e nada mais. Que grave responsabilidade quando de tudo isto
colhemos resultados pobres ou nulos!
5. A razão principal dos diversos Conselhos da Legião é, precisamente, conservar
inviolável o sistema da Legião. Custe o que custar, devem ser fiéis ao cargo de confiança
que lhes foi entregue.
125
[Capítulo 20 O Sistema Legionário Não Deve Ser Alterado página 126]
“O sistema da Legião de Maria é excelente” (Papa João XXIII).
“Deveis aceitar tudo ou rejeitar tudo. A diminuição enfraquece; a amputação
mutila. É uma loucura aceitar tudo exceto uma parte que pertence à integridade do todo
como qualquer outra (Cardeal Newman, “Ensaio sobre o Desenvolvimento da Doutrina
Cristã”).
21
O MÍSTICO LAR DE NAZARÉ
A doutrina do Corpo Místico de Cristo pode aplicar-se, particularmente, às reuniões
da Legião, sobretudo à do Praesidium, coração do sistema legionário. “Onde estiverem dois
ou três reunidos em Meu nome, aí estarei Eu no meio deles” (Mt 18, 20). Estas palavras do
Senhor nos garantem que a influência da Sua presença nos membros do Seu Corpo Místico
é proporcional, em intensidade, ao número daqueles que se juntam para servi-lo. O número
de pessoas é uma condição citada por Jesus para a manifestação completa do Seu poder.
Isto resulta talvez da nossa deficiência individual, que não permite a Cristo revelar-se
plenamente através das poucas virtudes de uma só pessoa. Ilustremos a doutrina com um
exemplo simples e natural. Um vidro colorido deixará passar a luz da sua cor, impedindo
todas as mais. Tomemos, porém, tantos vidros coloridos, como diversas são as cores e
verificaremos que da fusão dos raios projetados por todos eles, resulta a luz em sua
plenitude. De modo semelhante, quando os cristãos se unem mais ou menos numerosos
com o fim de servir a Deus, as suas virtudes completam-se mutuamente, oferecendo ao
Senhor a possibilidade de manifestar melhor através deles, a Sua perfeição e o Seu poder.
Quando os legionários se reúnem no Praesidium em nome e para o serviço de Jesus
Cristo, podem estar certos de que Ele está presente como a Sua poderosíssima influência.
Não é evidente que, nesse lugar, sai d’Ele uma extraordinária virtude? (Mc 5, 30).
Com Jesus, nesta pequena família legionária, estão também Maria e José, que
mantêm para com o grupo a mesma relação íntima que os une a Jesus. Deste modo, o
Praesidium pode considerar-se como uma projeção do Lar de Nazaré, não apenas por um
simples sentimento de devoção, mas com base na realidade. “Somos obrigados”, escreveu
Bérulle, “a tratar os atos e misté-
126
[Capítulo 21 O Místico Lar de Nazaré página 127]
rios de Jesus, não como passados e mortos, mas como vivos, presentes e até eternos”. Sejanos
permitido, por conseguinte, identificar, na nossa piedade, o local e os objetos do
Praesidium com a construção e mobília do Santo Lar, e considerar o comportamento dos
membros com aqueles, como prova da sua consideração pela verdade que Cristo vive em
nós e trabalha por nós, servindo-se necessariamente das coisas que nós utilizamos.
Sirva este pensamento para animar os membros a prestarem uma escrupulosa
atenção a tudo quanto se refere ao Praesidium e forma o lar legionário.
Embora o controle do local das reuniões possa ser limitado, não acontecerá assim
com o restante: a mesa, as cadeiras, o altar, os livros. Ora, quais são as possibilidades
oferecidas pelos legionários a Maria, a Mãe do Praesidium – Lar de Nazaré – para
reproduzir neste o dedicado governo doméstico, outrora iniciado na Galiléia? Maria precisa
da nossa colaboração. Se negarmos isso a Ela ou o fizermos de modo descuidado, poremos
a perder o Seu trabalho a favor do Corpo Místico de Cristo. Que esta idéia leve os
legionários a imaginar como Maria cuidava da sua casa.
Casa pobre, mobília simples. No entanto, como tudo respirava beleza! Entre as
esposas e mães de todos os tempos, não houve quem se comparasse a Ela no gosto
requintado e primoroso, que transparecia em cada objeto da sua casa. Como eram
encantadores os pormenores mais singelos, as coisas mais simples. É que Maria amava
todas as coisas – como só Ela era capaz de amar – por causa d’Aquele que as criara e que
agora se servia delas como ser humano. Cuidava delas, limpava-as, dava-lhes brilho e
procurava embelezá-las; cada uma a seu jeito, tinha de ser perfeita. Estejamos certos de que
não havia nada desorganizado em toda a casa. Não havia, com certeza. Aquela pequena
morada não tinha semelhante: era o berço da Redenção, a moldura do Senhor do Mundo.
Cada objeto – fato estranho! – servia para educar Aquele que criara o universo. Por isso,
tudo se adaptava a tão sublime propósito, pela ordem e limpeza, pelo brilho, pelo toque
perfeito dado por Maria.
Cada um dos objetos que pertence ao Praesidium concorre, a seu modo, para formar
os membros e deverá, por conseguinte, refletir as características do Lar de Nazaré, assim
como os legionários hão de refletir Jesus e Maria.
Um escritor francês intitulou assim uma das suas obras “Viagem à volta do meu quarto”.
Eis a viagem que os legionários devem fazer à volta do seu Praesidium. Examinem com
sentido
127

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