quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

[Capítulo 31 A 34

[Capítulo 31 Expansão e Recrutamento página 180]
não é com atividades de caráter religioso: estas vêm em último lugar. Representaria para
tais pessoas um benefício de alcance eterno fazer-lhes compreender que estão vivendo de
acordo com uma escala errada de valores. O apostolado deve ocupar o primeiro lugar,
por isso algumas das outras coisas devem descer-lhe o seu lugar.
“A lei primária de toda a sociedade religiosa é perpetuar-se através dos tempos,
estender a sua ação apostólica por todo o mundo e atingir o maior número possível de
almas. ‘Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra’ (Gn 1, 28). Esta lei da vida impõe-se,
como um dever, a cada pessoa que se torna membro da Sociedade. O Padre Chaminade
formula-a nestes termos: ‘Devemos realizar conquistas pela Virgem Santíssima, fazer
compreender àqueles com quem vivemos como é agradável pertencer a Maria, de modo a
induzir muitos deles a enfileirar e marchar conosco avante.’” (Breve tratado de
Mariologia, por um Marianista).
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ANTECIPANDO OBJEÇÕES PROVÁVEIS
1. “Aqui não há necessidade da Legião”.
Pessoas cheias de zelo, desejosas de fundar a Legião numa nova área, podem
esbarrar com o obstáculo dos que dizem: “Aqui não há necessidade da Legião”. Ora, como
a Legião não é uma organização fundada para um determinado gênero de trabalho, mas,
antes de mais nada, para desenvolver o zelo e o espírito apostólico dos católicos (aplicados
sem distinção a qualquer gênero de trabalho), semelhante resposta indicaria que em tal
lugar não há necessidade de zelo por parte dos que professam a fé cristã. Uma tal negação
não merece ser levada em consideração. No dizer do Padre Raul Plus, “O cristão é alguém a
quem Deus confiou os seus semelhantes”.
O exercício de um intenso apostolado é absolutamente necessário em toda parte,
sem exceção, por múltiplas razões.
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 181]
1º Porque devemos dar aos membros do rebanho, que disso são capazes, uma
oportunidade real para viverem a vida apostólica.
2º Porque a movimentação de todo o povo pelo apostolado é absolutamente
necessária nos nossos tempos, para o impedir, em matéria religiosa, de cair na rotina ou no
materialismo.
3º Porque o trabalho paciente e intenso de tais operários apostólicos é necessário
para orientar aqueles que se sentem frustrados na vida ou correm o risco de se
desencaminhar.
Sobre os superiores recai a responsabilidade de desenvolver ao máximo a
capacidade espiritual dos que lhes estão confiados. Que dizer então do apostolado,
elemento distintivo e essencial da vida cristã? Temos que chamar, portanto, as pessoas para
o apostolado. Mas, de que valerá um tal chamamento, sem lhes fornecermos os meios para
que o realizem? É quase como ficar calado. É que muitos dos que ouvem o chamado não
conseguem ter iniciativa para realizar alguma coisa por si mesmos se não abandonados às
suas próprias forças. Por conseguinte, é necessário oferecer-lhes uma máquina apropriada,
na forma de uma organização apostólica.
2. “Não temos pessoas capazes”.
Esta obrigação provém, as mais das vezes, da idéia errônea sobre o tipo de
trabalhador exigido. Ousamos afirmar que, de maneira geral, nos escritórios, nas fábricas,
nas oficinas, há muitas pessoas com condições para serem legionários.
Estes legionários em potencial podem ser instruídos ou não, pessoas que vivem do
seu trabalho ou dos seus rendimentos e, até mesmo, desempregados. O serviço da Legião
não é monopólio de uma cor, raça ou classe, pois em todas elas existem legionários. A
Legião tem o especial dom de saber alistar ao serviço da Igreja esta força oculta, esta
nobreza de caráter ainda não desenvolvida. Monsenhor Alfred O’Rahilly, como conclusão
do seu estudo sobre a atividade da Legião, escreveu: “Fiz uma grande descoberta ou, antes,
verifiquei que ela estava feita: a existência de um heroísmo latente em homens e mulheres
aparentemente comuns e a captação de fontes de energia até agora desconhecidas”.
Quanto às qualidades exigidas para ser membro da Legião, não devemos ser mais
exigentes do que os Papas que declararam que em qualquer meio podemos formar e treinar
um grupo de pessoas escolhidas para as tarefas do apostolado.
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 182]
Sobre este assunto convém ler atentamente o parágrafo 3 (b) do Capítulo 31,
“Expansão e Recrutamento” e igualmente o nº 6, do Capítulo 40, intitulado “A Legião,
Auxiliar do Missionário”, em que se insiste no vasto movimento de adesões à Legião entre
os neo-convertidos em terras de missão.
Se em qualquer lugar surgisse uma séria dificuldade no recrutamento legionário,
este fato indicaria um nível espiritual extraordinariamente baixo. E isso não deveria
paralisar nossa ação, mas, pelo contrário, demonstraria a extrema necessidade de um núcleo
da Legião para desempenhar o papel de bom fermento. O próprio Jesus Cristo propõe a
utilização do fermento (Mt 13, 33) para a transformação da sociedade.
Lembremo-nos de que para a formação de um Praesidium bastam quatro, cinco ou
seis membros. Se estes se aplicarem cuidadosamente ao trabalho e compreenderem as suas
exigências, depressa descobrirão e recrutarão outros membros idôneos.
3. “As pessoas se ofenderiam com a visita da Legião”.
Se assim fosse na realidade, a conclusão a tirar seria a necessidade de escolher outro
gênero de trabalho e nunca o abandono da idéia de fundar a Legião, com as magníficas
possibilidades que ela oferece aos seus membros e à comunidade. Fique, todavia, claro que,
até agora, a Legião nunca experimentou, em matéria de visitas, dificuldades permanentes
ou gerais. Na hipótese de a visita ser feita com verdadeiro espírito de apostolado legionário,
conforme as orientações destas páginas, podemos afirmar, de uma maneira geral, que a
frieza para com os legionários é prova de que as pessoas são indiferentes à religião ou
mesmo de que são contra ela. Precisamente onde os legionários são menos desejados é que
a sua atuação se torna mais necessária. Dificuldades deste gênero, experimentadas nas
primeiras visitas, não justificam a sua interrupção. Os legionários que enfrentaram
corajosamente estas barreiras de gelo conseguiram, quase sempre, não só derretê-las, como
também remover as suas causas ocultas, mais temíveis ainda.
A família – pensemos bem sobre isso – é o alvo estratégico. Conquistar a família é
ter nas mãos a sociedade. E como ganhá-la, sem nos aproximarmos dela?
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 183]
4. “Os jovens trabalham a sério o dia todo: precisam de tempo livre para
descansar”.
Por mais razoáveis que pareçam, se estas palavras fossem tomadas ao pé da letra,
acabariam deixando o mundo inteiro sem religião, pois o trabalho da Igreja não é obra de
desocupados. Além disso, muitas vezes, a juventude, cheia de vida, emprega o seu tempo
livre em atividades e divertimentos pouco sadios e prejudiciais a ela mesma e aos outros.
Muitos jovens não buscam um verdadeiro lazer e um saudável descanso. Isso leva a um
materialismo prático. Depois de alguns anos, o coração desses jovens está seco e
endurecido. Perdem muito cedo a juventude, com todos os seus sonhos. Isso quando as
coisas não terminam de forma pior ainda. S. João Crisóstomo afirma que nunca conseguira
convencer-se de que alguém pudesse salvar-se sem ter contribuído de algum modo para a
salvação dos seus irmãos.
Como seria infinitamente mais prudente animar estes jovens a oferecer ao Senhor,
na qualidade de legionários, a melhor parte do seu tempo livre! Isso os animaria pela vida
inteira e conservaria no seu coração e no seu rosto a serenidade e a alegria da juventude. E
lhes sobraria ainda muito tempo para o legítimo lazer, então duplamente saboreado, porque
duplamente merecido.
5. “A Legião não passa de uma organização como tantas outras, com o mesmo
ideal e o mesmo programa”.
É certo que os idealismos se multiplicam e que um programa de trabalhos
grandiosos pode ser elaborado em poucos minutos pelo primeiro que apareça e disponha de
caneta e papel; não se pode negar também que a Legião é uma das muitas organizações que
nobremente se lançam à luta pela conquista dos corações e apresentam um programa
importante de trabalhos; mas é também uma das poucas que definem claramente o seu
apostolado.
Um vago idealismo, seguido por vagos apelos a fazer o bem, será fatalmente
seguido de vagas realizações.
A Legião, porém, encarna o seu ideal numa espiritualidade definida, num programa
de oração definido, numa tarefa semanal definida, num relatório semanal definido e,
também, como se poderá verificar, numa realização definida. Finalmente, e isto não é o
menos importante, a Legião baseia o seu método no princípio dinâmico da união com
Maria.
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 184]
6. “O que a Legião pretende fazer, outras organizações o fazem; não virá criar
conflitos?”
Conflitos! Serão eles possíveis em localidades onde a maior parte da população não
pratica a religião ou não é católica, e onde os progressos são insignificantes? Como seria
triste ter de aceitar como normal este estado de coisas em que Herodes nos aparece ainda
entronizado no coração dos homens, enquanto Jesus e Sua Mãe Santíssima continuam
sempre obrigados a ficar no presépio miserável. Muitas vezes mesmo, este pretexto com
que se nega a entrada à Legião é invocado a favor de organizações cujas obras não
correspondem à fama alcançada: exércitos que, embora existam, não conquistam o inimigo.
Além disso, o trabalho que não se faz de forma adequada deixa de existir. O mesmo
acontece com a obra que utiliza algumas dúzias de apóstolos no trabalho que, propriamente,
exigiria centenas ou milhares. Este caso é, infelizmente, o mais comum. O reduzido número
de braços revela, por vezes, falta de organização e, conseqüentemente, de entusiasmo e de
método.
Estai certos de que em toda a parte há lugar para a Legião. Experimentai,
concedendo-lhe um campo de ação por pequeno que seja. Em presença dos resultados que
com certeza convencerão, permiti que esse punhado de legionários se multiplique como os
cinco pães de cevada do Evangelho, de modo a remediar todas as necessidades espirituais e
mais do que isso (Cf. Mt 14, 16-21).
A Legião, em matéria de realizações, não tem programa especial. Não pressupõe o
empreendimento de novos trabalhos, mas, sim, fornecer uma base para a organização das
obras já existentes, de forma a multiplicar-lhes a eficiência, como acontece com a aplicação
da energia elétrica a trabalhos anteriormente manuais.
7. “Há já organizações demais. Não seria melhor injetar vida nova às existentes
ou integrar nas suas funções os trabalhos propostos pela Legião?”
Este argumento significa estar fechado para o novo. Em todos os campos da
atividade humana se poderia dizer que há organizações demais. A novidade não deve ser
rejeitada pelo simples fato de ser novidade, pois ela traz, muitas vezes, o progresso. Por
isso, a Legião reclama oportunidade de mostrar o seu trabalho. Será que não seria
desastroso fechar-lhe a porta, tratando-se de uma obra de Deus?
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 185]
Além disso, a objeção leva a supor que o trabalho discutido não está sendo feito.
Não seria, então insensato e pouco conforme com a prática comum recusar um novo
mecanismo que provou em outros lugares a sua capacidade na realização de semelhante
trabalho? Como seria ridícula a mesma objeção formulada nestes termos: “Importar o
avião, para quê? Já temos máquinas demais. Aperfeiçoemos o automóvel até que ele voe”.
8. “A localidade é pequena; não há espaço para a Legião”.
Não é raro ouvirmos tais palavras a respeito de localidades que, embora pequenas,
conquistaram uma fama que ninguém lhes inveja.
De igual modo, uma pequena cidade ou vila pode passar por boa e, todavia, estar
adormecida na rotina: paralisação das qualidades morais e dos próprios interesses humanos.
Por isso, a juventude não encontrando essas qualidades e interesses, foge das zonas rurais
para os centros populosos, onde lhe falta apoio moral.
A origem do mal está na ausência de ideal religioso, carência que resulta do fato de
que cada um se limita apenas ao cumprimento dos deveres essenciais de cristão. O
desaparecimento desse ideal deixa atrás de si a aridez do deserto (e as pequenas vilas não
são os únicos desertos religiosos). Para fazermos reviver esse ideal, é necessário inverter o
processo: criar um pequeno grupo de apóstolos que comunique o seu espírito aos outros e
lhes mostre novos objetivos. Lançadas as obras que melhor convenham às necessidades
locais, a vida se tornará alegre e terminará a fuga para as cidades.
9. “Certos trabalhos da Legião constituem atividades espirituais que, pela sua
natureza, pertencem ao sacerdote, e só devem ser confiadas aos leigos quando
ele não as puder realizar. Ora, eu posso visitar o meu rebanho várias vezes ao
ano com resultados satisfatórios”.
A resposta a esta objeção é dada, de modo geral, no capítulo 10, “Apostolado da
Legião”, e, mais particularmente, nas linhas seguintes. Mas, desde já, se observa que não se
deve empreender
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 186]
nenhum trabalho que o sacerdote julgue de sua exclusiva competência.
O conhecimento profundo de uma cidade, que é indiscutivelmente considerada das
mais santas do mundo, revela a soma considerável de doentes espirituais e de materialistas
que se debatem com os mais aflitivos problemas da civilização moderna. Dizer que uma,
duas ou quatro visitas do sacerdote no correr do ano bastam para resolver esses problemas e
reacender a fé é uma ilusão, mesmo que elas tenham bons resultados. Suponhamos, porém,
que tudo corre bem: muitos se aproximarão da Eucaristia todos os dias; muitos mais,
semanalmente; e todos ao menos uma vez por mês. Como se explica, então, que quatro ou
cinco horas de confessionário por semana sejam muitas vezes suficientes? Donde provém
esta desproporção tremenda?
Mais: que grau de intimidade, ou pelo menos, de contato pessoal, é exigido do
pároco, para satisfazer a sua obrigação de pastor, no que respeita a cada pessoa confiada
aos seus cuidados? S. Carlos Borromeu costumava dizer que um só homem era diocese
suficiente para um Bispo. Um simples cálculo nos pode mostrar a soma de tempo gasto
anualmente na direção espiritual dos paroquianos, se a cada um se consagrasse a média de
trinta minutos. E esta meia hora bastará às necessidades de cada um? Santa Madalena Sofia
Barat, além de inumeráveis entrevistas, escreveu a uma só pessoa, difícil de orientar,
duzentas cartas. E quantos trabalhos legionários não duram há dez anos e mais – e
prosseguem ainda!
Pois bem: o sacerdote, esgotado pelo trabalho, não pode despender, com cada um de
seus paroquianos, essa escassa meia hora; por outro lado, a Legião se prontifica a oferecerlhe
– como ela afirma – numerosos e zelosos auxiliares, prontos a obedecer a cada uma de
suas palavras, perfeitamente discretos, capazes, como ele e com a sua ajuda, de se
aproximar dos indivíduos e da famílias; em resumo, dão a ele ajuda para que preste à
comunidade mais que um ministério de rotina. Poderá ele recusar essa colaboração sem
faltar aos seus deveres de sacerdote e a seus próprios interesses?
“A Legião de Maria traz ao sacerdote duas bênçãos de igual valor: primeiro, um
instrumento de conquista com a marca autêntica do Espírito Divino – e, neste caso,
perguntarei a mim mesmo: tenho eu o direito de rejeitar esta arma providencial? Segundo,
uma fonte de água viva, capaz de remoçar inteiramen-
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 187]
te a nossa vida espiritual – e de novo me interrogarei: não terei eu a obrigação de beber
desta fonte pura e abundante de vida, posta à minha disposição?” (Cônego Guynot)
10. “Temo indiscrições, sempre possíveis, por parte dos membros da Legião”.
A objeção manifesta desconhecimento do sentido das realidades. É como deixar de
fazer a colheita só porque se corre o risco de, por causa de descuidos, perder alguma
espiga! Ora, a seara em causa é a dos homens: homens pobres, fracos, cegos, estropiados e
em tal estado de miséria e em tal número que corremos o perigo de ser levados a considerar
esta situação como irremediável. E, todavia, são esses precisamente que o Senhor nos
manda procurar por toda a parte – por ruas e vielas, caminhos e vales – de modo a
enchermos a Sua Casa (Lc 14, 21-23). Como colher tão abundantemente messe, se para isso
não mobilizarmos batalhões de leigos? É possível que se cometam indiscrições, pois, em
certa medida, elas são inseparáveis do zelo e da própria vida. Há duas maneiras de nos
assegurarmos contra as indiscrições: ou uma paralisação completa e vergonhosa ou uma
cuidadosa disciplina. Um coração nobre, em que encontre eco a compaixão do Senhor pela
multidão enferma, não hesitará em abandonar, horrorizado, a primeira alternativa, para se
lançar com todas as suas forças, à conquista dos irmãos aflitos. Até o presente, graças a
Deus, a Legião não tem que lamentar indiscrições freqüentes ou graves por parte dos seus
membros: mostraram sempre, pelo menos, a mais cuidadosa disciplina.
11. “Em todos os começos há dificuldades”.
Por vezes as dificuldades parecem insuperáveis; e a Legião não constitui exceção
entre as demais organizações da Igreja. Mas, encaradas corajosamente, se verificará que se
assemelham a certas florestas que de longe parecem densas e impenetráveis, e de perto se
mostram bem acessíveis.
Tenhamos presente a afirmação do Cardeal Newman: “Aqueles que se preocupam
demasiadamente com o alvo nunca o atingem; quem nunca se aventurou nunca ganhou; a
prudência demasiada torna-se fraqueza; e nada fará de verdadeiramente substancial quem
não se expuser a imperfeições casuais”.
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[Capítulo 32 Antecipando Objeções Prováveis página 188]
Quando se trata de obras sobrenaturais, não sejamos tão humanamente prudentes
que ignoremos a existência da Graça. Por que insistir tanto nas dificuldades e obstáculos de
toda a ordem, sem levarmos em conta os auxílios do Céu? A Legião de Maria baseia-se na
oração, dedica-se a conversão dos homens e pertence inteiramente a Maria. Por isso,
considerando-a, não falemos de prudência humana, mas de sabedoria divina.
“Maria é Virgem única, e nenhuma outra se lhe pode comparar. Virgo singularis.
Considerando-A, não me faleis de regras humanas, falai-me antes, de regras divinas.”
(Bossuet)
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PRINCIPAIS DEVERES DOS LEGIONÁRIOS
1. Participação regular e pontual na reunião semanal do Praesidium
(Ver capítulo 11, Plano da Legião)
a) Fácil nos dias serenos e de boa disposição, este dever torna-se difícil nas ocasiões
de mau tempo ou de grande cansaço e, em geral, quando somos tentados a ir a qualquer
outra parte. É então que cada um se revela. As dificuldades são uma prova e o mérito real
consiste em vencê-las.
b) É mais fácil compreender o valor do trabalho do que o da reunião, em que dele
devemos dar conta; e, todavia, a participação na reunião é o dever principal. Ela é para o
trabalho o que a raiz é para a flor: a condição indispensável da vida.
c) A fidelidade em participar das reuniões, apesar do longo trajeto de ida e volta, é
prova de profundo espírito sobrenatural. Naturalmente, seríamos levados a julgar que o
valor da reunião não compensa o tempo perdido em percorrer o caminho! Mas não é tempo
perdido! Faz parte – e de elevado merecimento – do nosso trabalho total. Quem ousaria
afirmar que o tempo gasto por Maria, na viagem para visitar Sua prima Isabel, foi tempo
perdido?
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[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 189]
“A muitas outras virtudes, Santa Teresa de Lisieux acrescentava uma indomável
coragem. Tinha como princípio que ‘devemos ir até ao extremo das nossas forças antes de
nos queixarmos’. Quantas vezes assistia a Matinas com vertigens e fortes dores de cabeça!
‘Ainda posso andar’, costumava dizer, ‘devo por isso cumprir o meu dever’. Era esta
extraordinária energia que a levava a praticar atos heróicos.” (Santa Teresa do Menino
Jesus)
2. Cumprimento da obrigação do trabalho semanal.
a) Este trabalho deve ser substancial, isto é, de modo a ocupar o legionário duas
horas por semana. Não nos deixemos, porém, limitar, no apostolado, por cálculos
matemáticos. Grande parte dos legionários vai muito além do tempo mínimo, dando ao seu
trabalho vários dias por semana, e alguns até todos os dias. O trabalho legionário deve
consistir num serviço ativo, concreto, designado pelo Praesidium, e não numa tarefa ditada
pelo capricho individual. As orações ou outros exercícios de piedade, por mais valiosos que
sejam, não satisfazem, nem mesmo parcialmente, a obrigação do trabalho ativo.
b) O trabalho semanal é também uma forma de oração, cujas regras temos de seguir.
Sem uma forte proteção sobrenatural, o trabalho não se mantém por muito tempo: ou é fácil
e torna-se rotineiro e cansativo; ou interessante e esbarra talvez com resistência e
obstáculos aparentes. Em ambos os casos, as considerações humanas nos levam, em breve,
à desistência. Como será diferente, porém, se o legionário for acostumado a penetrar na
neblina dos sentimentos naturais que escondem o verdadeiro alcance do trabalho, e a ver
este na sua perspectiva sobrenatural. Quanto mais sofrimento houver numa obra, mais
devemos estimá-la.
c) O legionário é um soldado. Não cumprirá, pois, os seus deveres menos
corajosamente que os soldados da terra. Tudo o que é nobre, sacrificado, cavalheiresco e
enérgico no caráter do soldado há de encontrar-se, no mais alto grau, no verdadeiro
legionário de Maria e, conseqüentemente, refletir-se no seu trabalho.
Para o militar, o dever não é sempre o mesmo: ora tem de enfrentar a morte no
campo de batalha, ora de fazer a ronda monótona de sentinela, ora de limpar os pavimentos
do quartel. O dever como tal, eis o que importa. O bom soldado considera o dever em si e
não o seu objeto: em todas as circunstâncias, na
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[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 190]
derrota como na vitória, revela a mesma inviolável fidelidade. Pois bem: a maneira como o
legionário encara o dever não há de ser menos séria, nem menos rigorosa a sua aplicação
aos pormenores do trabalho, aos mais insignificantes como aos mais difíceis.
d) O legionário deve trabalhar em união íntima com Maria. Um dos fins essenciais
do seu apostolado, não o esqueça, é tornar Maria tão conhecida e amada daqueles de quem
se aproxima, que os leve a servi-la com generosidade. Conhecê-la e amá-la são condições
indispensáveis da saúde e progresso sobrenatural de cada um. “Ela toma parte nos Divinos
Mistérios e pode chamar-se, com razão, a sua guardiã. Em Maria, como no mais nobre
fundamento depois de Jesus Cristo, assenta a fé de todas as gerações” (AD). Convidamos
todos os legionários a meditar estas sugestivas palavras do Papa Pio X: “Enquanto a
devoção à augusta Mãe de Deus não lançar profundas raízes nas almas – e só então – nunca
estas hão de produzir frutos de virtude e de santidade compensadores dos trabalhos e
canseiras do apostolado”.
“Lembrai-vos de que estais combatendo, como Nosso Senhor no Calvário, com a
certeza da vitória. Não receeis utilizar as armas que Ele afiou, nem partilhar das Suas
chagas. Que importa que a vitória seja ganha nesta geração ou na futura? Segui a
tradição de um labor constante e paciente e deixai o resto ao Senhor porque não nos
pertence conhecer nem o dia nem a hora que o Pai, em Seus altos desígnios, determinou.
Coragem! Levai o fardo da vossa responsabilidade de cavaleiros com a inflexível
intrepidez das grandes almas que vos precederam.” (T. Gavan Duffy: O Preço do Dia que
Desponta)
3. Relatar verbalmente na reunião o trabalho da semana
Importantíssima é esta obrigação, que constitui um dos exercícios que mais
concorrem para manter o interesse pelo trabalho legionário. Por este motivo e também para
informar os assistentes se exige o relatório. O cuidado com que o legionário o prepara e o
modo como o apresenta são prova da sua capacidade. Cada relatório é uma pedra para o
edifício que é a reunião: a integridade desta depende da perfeição dos relatórios. Todo
relatório defeituoso é um atentado contra a reunião, fonte da vida legionária.
Parte importante da formação dos membros consiste na aprendizagem dos métodos
de trabalho dos outros, como se
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[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 191]
mostram pelos seus relatórios, e em ouvir os comentários que o seu próprio relatório
provoca por parte dos legionários mais experientes. É, pois, evidente que o relatório
demasiado breve não aproveita nem a quem o apresenta nem a quem o escuta.
Para mais pormenores sobre o relatório e a maneira de o apresentar, veja-se o nº 9
do capítulo 18, “Ordem a observar na Reunião do Praesidium”.
“Recordai com que insistência São Paulo exorta os cristãos a socorrer e lembrar
em suas orações ‘todos os homens, porque Deus quer que todos se salvem... pois Jesus
Cristo se entregou a si mesmo para redenção de todos’ (1Tm 2, 6). O princípio da
universalidade deste dever e do seu objeto aparece também nestas sublimes palavras de
São João Crisóstomo: ‘Cristãos, vós haveis de dar contas não só de vós mesmos, mas do
mundo inteiro.’” (Gratry: As fontes)
4. Segredo inviolável
Os legionários devem guardar segredo inviolável de tudo o que ouvem na reunião
ou vêm a conhecer por ocasião do seu trabalho. É como legionários que eles adquirem tais
conhecimentos; a sua divulgação constituiria traição intolerável para com a Legião. É
evidente que temos de apresentar o nosso relatório ao Praesidium, mas mesmo então,
devemos ser prudentes. Trata-se deste assunto amplamente no nº 20 do capítulo 19, “A
reunião e o membro”.
“Guarda o depósito que te foi confiado.” (1Tm 6, 20)
5. Caderno de anotações
Cada membro deve ter um caderno em que anotará os dados referentes aos diversos
casos. Esta maneira de proceder tem as suas razões: a) temos obrigação de fazer o trabalho
com o método e a seriedade com que tratamos de um negócio; b) não perderemos de vista
os casos já resolvidos, ou ainda a resolver; c) teremos assim elementos necessários para um
bom relatório; d) estamos nos treinando em hábitos de ordem; e) como prova concreta do
trabalho já realizado, o nosso caderno de anotações será uma poderosa arma nos momentos
inevitáveis de desânimo, quando a sombra de uma dificuldade presente tenta apagar as
realizações passadas.
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[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 192]
Estas notas devem ser confidenciais, escritas numa espécie de código, se preciso
for, para esconder, de pessoas estranhas, informações delicadas. Nunca devemos fazer
anotações diante dos interessados.
“Faça-se tudo convenientemente e com ordem.” (1Cor 14, 40)
6. Reza Diária da Catena Legionis
Todo legionário deve rezar diariamente a Catena Legionis (Corrente da Legião),
composta principalmente do Magnificat, a oração própria de Maria, o hino vespertino da
Igreja, “o mais humilde e agradecido, o mais sublime e excelso de todos os cânticos” (S.
Luís Montfort).
Como o nome o indica, a Catena é o vínculo que une a Legião à vida diária de todos
os seus membros (Ativos e Auxiliares), o laço que os liga a todos entre si e à sua bendita
Mãe. O nome sugere também a obrigação de rezá-la todos os dias. Que o conceito de
corrente, formada por elos – cada um dos quais é necessário à perfeição do todo – sirva de
advertência contra o descuido, que pode levar o legionário a ser um elo partido na cadeia da
oração diária da Legião.
Os legionários, a quem as circunstâncias forçaram a abandonar as fileiras ativas da
Legião, e mesmo aqueles que a deixaram por razões menos aceitáveis, deveriam continuar
esta belíssima prática e manter assim intacto, durante toda a vida, ao menos este vínculo
com a Legião.
“Quando eu quiser conversar familiarmente com Jesus, hei de fazê-lo de cada vez,
em nome de Maria e, até certo ponto, em sua pessoa. Por mim, ela deseja reviver as horas
de doce intimidade e inefável ternura, que passou em Nazaré com seu amado Filho. Com a
minha ajuda se alegrará novamente em conversar com ele; graças a mim, há de abraçál’O
e estreitá-l’O contra o seu coração como outrora em Nazaré.” (De Jaegher: A Virtude
da Confiança)
7. As relações entre os membros
Embora os legionários estejam dispostos a cumprir, em geral, o dever da caridade
fraterna, esquecem-se, às vezes, de que tal dever requer uma atitude bondosa e indulgente
com os aparentes defeitos dos colegas. Qualquer falta, neste ponto, privará
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[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 193]
o Praesidium de inúmeras graças e pode levar muitos à resolução desastrosa de abandonar a
Legião.
Por outro lado, todos devem ter juízo suficiente para compreender que a sua
fidelidade à Legião não pode depender do fato de este Presidente ser simpático ou aquele
colega tratável; nem tampouco tem nada a ver com desfeitas reais ou imaginárias, com
qualquer falta de consideração, com esta discordância ou aquela censura ou outros
incidentes semelhantes.
A renúncia a si próprio é o fundamento de todo o trabalho em comum. Sem ela, os
melhores operários tornam-se uma ameaça constante para a organização. Os melhores
servidores da Legião são aqueles que, deixando de lado, um pouco, seu próprio “eu”, se
adaptam completa e harmoniosamente aos métodos e princípios legionários. Ao contrário,
aquele que diz ou faz qualquer coisa contrária à doçura que deve caracterizar a Legião abre
uma artéria no organismo – ato cujas conseqüências podem ser fatais. Cuidem, pois, de
construir e não destruir, de unir e não de dividir.
Ao tratar das relações de legionário para legionário, é necessário sublinhar de modo
particular o que leviana e impropriamente se chama de “pequenas invejas”. A inveja
raramente é pequena. É amargor de coração que envenena todas as relações humanas. Nas
pessoas más, é uma força feroz e louca, capaz dos atentados mais horríveis. Nas pessoas
generosas e nos corações puros, explora a sua natureza sensível e carinhosa. Como é duro
ver-se substituído por outro, ultrapassado em virtude ou em êxito, posto de lado, para dar
lugar aos mais novos! Como é amargo contemplar o eclipse de si próprio! Até mesmo os
santos sentiram este tormento secreto, e conheceram deste modo a sua estupenda fraqueza!
Na realidade, essa amargura não é senão ódio adormecido, prestes a romper em labareda
destruidora.
O esquecimento pode trazer-nos algum alívio. Mas o legionário deve procurar um
fim mais elevado que esta paz; só deve contentar-se com a vitória completa, o triunfo – tão
cheio de mérito – sobre a natureza revoltada, a transformação total da inveja, que é semiódio,
em amor cristão. Como realizar, porém, semelhante milagre? Cumprindo plenamente
os deveres legionários para com os companheiros e para com aqueles que o rodeiam, vendo
e reverenciando em todos a Jesus Cristo, seu Senhor, como lhe foi ensinado. Cada
manifestação da inveja deve vir de encontro a esta reflexão: “A pessoa, cuja exaltação tanto
me amargura, não é outra senão o Senhor. Os meus sentimentos, por isso, devem ser os de
João Batista: muito me alegro em
193
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 194]
ver Jesus exaltado à minha custa: é preciso que Ele cresça e eu diminua”.
Esta atitude exige uma santidade heróica. É a matéria prima de um glorioso destino.
E que honrosa oportunidade para que Maria liberte de toda mancha de vaidade o coração do
legionário, através do qual a luz há de resplandecer para outros homens (Jo 1, 7), e formar
assim o embaixador desinteressado que prepare o caminho adiante do Senhor (Mc 1, 2).
Um precursor deve sempre desejar ver-se posto na sombra por aquele a quem
anuncia. O verdadeiro apóstolo se alegrará com o progresso dos outros, nunca interpretando
o crescimento deles como diminuição de si próprio. Não merece o nome de apóstolo aquele
que só quer o progresso dos outros quando isso não lhe faz sombra. Tal inveja mostraria
que preferimos a tudo a satisfação do nosso “eu”, ou seja, do nosso egoísmo. No verdadeiro
apóstolo, o “eu” é relegado sempre para o último lugar. Mais: o verdadeiro apostolado não
combina com o espírito de ciúme.
“Com as primeiras palavras de respeito e carimbo, Maria transmite o primeiro
impulso santificante, que vai purificar essas duas almas, regenerando João Batista e
enobrecendo ao mesmo tempo a Isabel, sua mãe. Ora, se as suas primeiras palavras
operaram tais maravilhas, que devemos pensar dos dias, semanas e meses que se
seguiram? Maria dá sempre... E Isabel recebe – por que não o dizer? – recebe sem inveja!
Isabel, a quem Deus concedeu também milagrosamente a graça da maternidade, inclina-se
diante da sua jovem prima, sem a mínima amargura secreta, por não ser ela a eleita do
Senhor. Isabel não tinha inveja de Maria e também Maria mais tarde não terá inveja do
amor que seu divino Filho há de consagrar aos apóstolos. Assim como S. João Batista não
invejará Jesus, porque os próprios discípulos o abandonaram para seguir o Filho de Deus.
Sem o mínimo vestígio de ciúme, vê-os afastarem-se de si, comentando o caso apenas com
estas palavras: ‘Aquele que veio do alto está acima de todos... Importa que Ele cresça e
que eu diminua’. (Jo 3, 30-31) (Perroy: A Humilde Virgem Maria)
8. Relações entre os companheiros de visita
Os legionários têm deveres especiais para com os companheiros de visita. “Enviouos
dois a dois adiante d’Ele” (Lc 10, 1). O número “dois” tem aqui significação mística: é o
símbolo da ca-
194
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 195]
ridade, de que dependem os bons frutos da ação. “Dois” não quer dizer só duas pessoas que
casualmente trabalham juntas, mas união perfeita entre dois corações, como a de David e
Jônatas, dos quais está escrito que cada um amava o outro como a sua própria alma (1Sm
18, 1).
Os que se lançam ao trabalho de salvação do próximo com este espírito hão de ser
verdadeiramente abençoados; e quando “voltarem virão contentes, trazendo os seus feixes”
(Sl 126, 6).
É nos mínimos pormenores que se manifesta e progride a união entre os dois
visitantes. Promessas não cumpridas, faltas aos encontros marcados, faltas de pontualidade,
quebras de caridade por pensamentos ou palavras, pequenas indelicadezas, ares de
superioridade cavam entre os dois uma trincheira e tornam impossível a união.
“Para uma congregação religiosa, depois da sua disciplina, a mais preciosa
garantia de bênçãos e de fecundidade é a caridade fraterna, a união íntima de todos.
Devemos amar todos os nossos irmãos sem exceção, como filhos privilegiados e escolhidos
de Maria. O que fizermos a qualquer dentre eles, Maria considerá-lo-á como feito a si
mesma ou, antes, ao Seu Filho Jesus – visto todos os nossos irmãos serem chamados por
vocação a tornar-se, com Jesus e em Jesus, verdadeiros filhos de Maria.” (Pequeno
Tratado de Mariologia, por um Marianista).
9. Expansão da Legião
O recrutamento de novos membros faz parte das obrigações de todo legionário.
“Amarás o próximo como a ti mesmo”, diz Nosso Senhor. Ora, se a Legião é uma bênção
para todos aqueles que a ela pertencem, é dever dos seus membros procurar partilhá-la com
outros. Se alguém verifica que os irmãos se elevam pelo seu trabalho, não deverá ele
desejar estender este trabalho? Enfim, poderá o legionário deixar de se esforçar por alistar
novos membros, sabendo que a Legião os faz progredir no amor e serviço de Maria, a
maior bênção depois de Jesus que pode entrar numa vida? Porque Deus fez dela –
dependente e inseparavelmente de Cristo – a raiz, o crescimento e a floração da vida
sobrenatural.
Existem pessoas que nunca pensarão em entrar pela Estrada da Vida, se nós não nos
aproximarmos delas e insistirmos com elas. E, bem lá no fundo, é essa Estrada que
procuram e é essa
195
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 196]
Estrada que as levará a conquistar graças extraordinárias. E, através delas, muitas outras
pessoas também descobrirão o caminho.
“Diante de todos os mortais se abre um caminho – e muitos caminhos – e um
caminho. A alma nobre envereda pelo caminho elevado; a alma mesquinha arrasta-se no
caminho baixo; e entre os dois, nos planaltos brumosos, as outras marcham ao acaso.
Diante de todos os homens se abre um caminho elevado e um caminho baixo e cada um
decide do caminho a seguir.” (John Oxenham).
10. Estudo do Manual
Todo membro tem o rigoroso dever de estudar a fundo o Manual. É a exposição
oficial do que é a Legião. Contém, o mais resumidamente possível, aquilo que de mais
importante todo legionário bem informado deve saber a respeito dos princípios, leis,
métodos e espírito da organização. Os membros – particularmente os Oficiais – que não
estudam o Manual tornam-se absolutamente incapazes de pôr em prática, como deve ser, o
sistema da Legião. Por outro lado, um conhecimento cada vez mais íntimo traz consigo um
aumento de eficiência do trabalho. E – fenômeno estranho! – o interesse irá crescendo de
dia para dia, e a qualidade será proporcional à quantidade.
“Extenso demais!”, ouve-se não raras vezes; e – que despropósito! – estas palavras
partem às vezes de pessoas que consagram diariamente à leitura dos jornais o tempo
suficiente para ler a maior parte do Manual.
“Extenso demais! Pormenorizado demais!” Ouviríamos nós esta queixa de um
estudante de Direito, de Medicina ou da Escola de Guerra, diante de um livro com o mesmo
tamanho, no qual ele pudesse encontrar todos os conhecimentos referentes à sua
especialidade? Ao contrário, haveria de decorar numa semana ou duas todas as idéias,
mesmo palavra por palavra, contidas nesse tratado. Na verdade “os filhos deste século são
mais hábeis no trato com os seus semelhantes do que os filhos da luz” (Lc 16, 8).
Fala-se também que o “Manual está cheio de noções difíceis e de assuntos muito
elevados, e que isso dificulta a compreensão para os membros mais jovens e menos
instruídos. Por que não lhes apresentar um Manual simplificado?” Não deveria ser
necessário fazer notar que tal sugestão é contrária aos princípios básicos da educação, os
quais requerem que o estudante seja in-
196
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 197]
troduzido gradualmente em terreno desconhecido. Se o aluno conhecesse perfeitamente de
antemão o assunto a tratar, não poderia haver ensino; este cessa onde acaba a novidade a
propor ao espírito. Por que deveria, pois, o legionário esperar compreender perfeitamente o
Manual, à primeira vista, quando ninguém espera de um escolar que entenda logo o seu
livro de álgebra ou de latim? É próprio da aula e da noção de ensino tornar claro o que não
era claro, introduzir o aluno no domínio do conhecimento.
“Até as palavras são difíceis”. No entanto, não haverá possibilidade de entendê-las?
O vocabulário do Manual não é tão elevado que não se possa compreender com algumas
perguntas a uma pessoa competente e um bom dicionário. De fato, é exatamente o
vocabulário dos jornais diários lidos por toda a gente. Quem jamais ouviu alguém sugerir
que estes jornais deveriam ser simplificados? O brio e o catolicismo do legionário deveriam
animá-lo a conseguir entender e usar as palavras necessárias para explicar os princípios da
sua fé e da Legião.
O que acabamos de expor a respeito do vocabulário do Manual vale também a
respeito de suas idéias. Não são obscuras. “No ensino da Igreja não há um corpo doutrinal
acessível apenas a alguns” (Arcebispo McQuaid). Prova isso o fato de legionários sem
conta, pessoas comuns, do povo simples, terem entendido completamente essa doutrina e
terem feito dela o alimento e a substância de suas vidas. Também não são desnecessárias.
De fato, é impossível cumprir de modo satisfatório o dever do apostolado sem a sua
compreensão racional, pois se trata dos princípios básicos, quer dizer, da verdadeira vida de
apostolado. Sem uma compreensão suficiente de tais princípios, o apostolado não tem
sentido autêntico, quer dizer, faltam-lhe as raízes sobrenaturais, e, de tal forma, que não
tem o direito de chamar-se cristão. A diferença entre o apostolado cristão e a campanha
indefinida de apenas “fazer o bem” é como a distância entre o céu e a terra.
É necessário compreender, portanto, as idéias apostólicas do Manual e o Praesidium
desempenha a função de mestre. Isso se consegue através da leitura espiritual e da
Alocução, dentro das reuniões; e, fora destas, pela leitura e estudo metódicos, a que os
legionários devem ser incessantemente animados. Mas os conhecimentos têm de ultrapassar
a esfera teórica. Cada parte do trabalho ativo deve unir-se à doutrina apropriada e receber,
deste modo, um significado espiritual.
Perguntaram um dia a Santo Tomás de Aquino como fazer para tornar-se douto.
Replicou este: “Lede um livro. Procurai compreender bem o que ledes ou ouvis e atingir a
certeza onde
197
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 198]
irrompe a dúvida”. Não tinha o grande mestre em vista nenhuma obra em particular, mas
qualquer livro digno de ser lido. As suas palavras podem servir de incentivo a todos os
legionários para um estudo exaustivo do Manual.
Além disso, o Manual oferece também um valioso conteúdo catequético. Apresenta
de uma forma simples e abreviada a religião católica, em conformidade com a legislação do
Concílio Vaticano II.
“Embora São Boaventura considerasse a ciência como o resultado de uma
iluminação interior, não desconhecia, no entanto, o trabalho que o estudo exige. Por isso,
citando São Gregório, apresentava como exemplo de estudo o milagre das bodas de Caná,
na Galiléia. Jesus Cristo não criou o vinho do nada, mas ordenou aos servos que
enchessem as talhas de água. De igual modo, o Espírito Santo não concede inteligência
espiritual e ciência ao homem que não enche a sua talha, isto é, a sua mente, com água,
isto é, com os conhecimentos adquiridos pelo estudo. Não há iluminação sem esforço. A
compreensão das verdades eternas é a recompensa do trabalho do estudo, de que ninguém
pode estar dispensado.” (Gemelli: A Mensagem Franciscana ao Mundo).
11. Estar sempre de serviço
Na medida em que a prudência o aconselhe, o legionário deve procurar impregnar
do espírito da Legião todas as ocupações da vida diária e estar sempre alerta para aproveitar
as oportunidades e promover os objetivos gerais da Legião: destruir o império do pecado,
arrancá-lo e plantar nas suas ruínas o estandarte de Cristo Rei.
“Encontra-vos um cavalheiro na rua e pede-vos um fósforo. Falai-lhe e dentro de
dez minutos perguntar-vos-á por Deus” (Duhamel). E por que não provocamos esse contato
vivificante pedindo-lhe nós o fósforo? Vezes sem conta, a ponto de ameaçar converter-se
em costume, entende-se e pratica-se o Cristianismo apenas em parte, isto é, como uma
religião individualista, destinada exclusivamente ao benefício de si mesma e desinteressada
por completo dos irmãos que nos rodeiam. É o “meio círculo do Cristianismo”, tão
reprovado por Pio XI. Evidentemente, o mandamento que nos ordena amar a Deus com
todo o coração, com toda a alma e com toda a mente, e ao próximo como a nós mesmos
(Mt 22, 37-39) caiu em muitos ouvidos dispostos a não o escutar.
198
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 199]
Considerar o ideal legionário como uma espécie de santidade destinada apenas a
alguns escolhidos seria uma prova concreta desta visão gravemente errada: o ideal
legionário é tão somente o ideal cristão elementar. Não é fácil compreender como é
possível alguém descer abaixo das suas exigências e ter, no entanto, a pretensão de amar
ativamente o próximo, como nos é imposto pelo grande Preceito. Este amor faz parte
integrante do verdadeiro amor de Deus e de tal forma que, sem ele, o ideal cristão fica
deformado. “Temos de salvar-nos todos juntos e juntos devemos apresentar-nos diante de
Deus. Que nos diria o Senhor se alguns de nós se apresentassem diante d’Ele sem os
outros?” (Péguy).
Um tal amor deve derramar-se nos corações dos nossos irmãos, sem distinção,
individual e conjuntamente, não sob a forma de mero sentimento, mas de dever, de serviço
e de dedicação. O legionário deve ser a corporização simpática deste Cristianismo
autêntico. Se a Verdadeira Luz que veio a este mundo não se erguer, à vista dos homens,
com raios numerosos e fulgurantes, quer dizer, através dos exemplos práticos de uma vida
realmente cristã, não só há o perigo, mas a certeza de não se refletir no padrão comum da
vida dos católicos. Estes se deixarão afundar até o último escalão que os separa do inferno.
A religião ficaria assim sem o seu caráter nobre e desinteressado ou, por outros termos,
seria o inverso ridículo do que dela se espera, incapaz de atrair e defender quem quer que
seja.
Serviço significa disciplina. Estar sempre de serviço significa manter uma disciplina
constante. Por isso, a linguagem do legionário, o modo de se vestir, as maneiras, todo o seu
porte, por mais simples, nunca devem trair a sua fé. Muitas pessoas procuram apanhar em
falta aqueles que elas vêem trabalhar a favor da religião. Quedas, que em outros
dificilmente atrairiam a atenção, serão julgadas vergonhosas no legionário e hão de
inutilizar em grande parte os seus esforços de fazer o bem. Não há nada que estranhar: é
razoável exigir de quem quer que anime os outros a um ideal superior um tipo de vida que
sirva de exemplo.
Mas nisto, como em tudo, deve prevalecer o bom senso. Os bem intencionados não
devem deixar-se afastar do apostolado pela consciência das suas próprias deficiências; seria
acabar com todo o trabalho apostólico. Nem pensem que seja hipocrisia aconselhar uma
perfeição que eles mesmos não possuem. “Não, diz São Francisco de Sales, não é ser
hipócrita falar melhor do que agir. Se assim fosse, Deus meu! Aonde isso nos levaria?
Teríamos de ficar calados”.
199
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 200]
“A Legião quer simplesmente viver o catolicismo normal. Dizemos normal e não
medíocre. Hoje em dia pensamos comumente que católico normal é aquele que pratica a
religião em proveito próprio, sem interesse algum ativo pela salvação de seus irmãos. Ora,
semelhante indivíduo é a caricatura do católico fiel e do próprio catolicismo. O católico
medíocre não é o católico normal. Deveríamos sujeitar a uma crítica cerrada, a um
processo de revisão, a noção de “bom católico” ou de “católico praticante”. Há um
mínimo de trabalho apostólico, abaixo do qual ninguém pode se dizer católico, e este
mínimo indispensável por que seremos julgados no juízo final não é atingido pela massa
dos católicos ditos praticantes. Nisto reside um drama e um equívoco fundamental.”
(Cardeal Suenens: Teologia do Apostolado).
12. O legionário deve unir a oração ao trabalho
Embora o Membro Ativo tenha como única obrigação diária a reza da Catena
Legionis, aconselha-o vivamente a Legião a incluir no seu programa cotidiano todas as
orações da Tessera. Obrigatórias para o Auxiliar, seria reprovável que os Ativos
contribuíssem menos neste ponto para a causa comum do que os seus incontáveis
cooperadores espirituais. Os Auxiliares, é certo, não trabalham ativamente, mas também é
indiscutível que melhor serve a Rainha da Legião o Auxiliar que reza do que o legionário
Ativo que trabalha mas não reza. Este age contra as intenções da Legião que, no ataque,
reserva aos Ativos a função de pontas de lança e aos Auxiliares, apenas a função de haste.
Mais: o fervor e a perseverança dos Auxiliares dependerão, em grande parte, da
convicção de que, pela sua colaboração, completam um serviço sacrificado e heróico, muito
superior ao deles. Por mais este motivo, o Ativo deve ser para o Auxiliar um exemplo e um
estímulo. Mas como é pouco animador o exemplo do Ativo que nem sequer cumpre o dever
de piedade exigido do Auxiliar, deixando-nos na dúvida sobre qual dos dois serve melhor a
Legião!
Todo legionário Ativo ou Auxiliar deve alistar-se na Confraria do Santíssimo
Rosário. As vantagens são imensas. (Veja-se Apêndice 7.)
“Em toda prece se invoca, ao menos implicitamente, o Santíssimo Nome de Jesus,
embora as palavras ‘por Jesus Cristo, Nosso Senhor’,
200
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 201]
não sejam ditas expressamente: Jesus é o Mediador único, a quem todo pedido tem de ser
apresentado. O mesmo deve dizer-se, também, da Mãe de Deus: quer uma pessoa dirija a
sua súplica diretamente ao Pai, quer a confie a um anjo ou a um santo, sem recorrer ao
nome santíssimo de Maria, nem por isso este nome bendito deixa de ser implicitamente
invocado, em virtude da associação necessária com Jesus Cristo, único Mediador. A
invocação de Deus é invocação virtual de Maria; a invocação do Filho, como Homem, é
invocação da Mãe; a invocação dos santos é também invocação da Senhora.” (Canice
Bourke, O. F. M. Cap.: Maria)
13. A vida interior dos legionários
“Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2, 20). A vida interior
orienta os nossos pensamentos, desejos e afetos para o Senhor. O modelo desta vida é
Nossa Senhora. Maria progredia continuamente na santidade: o progresso espiritual é,
acima de tudo, avanço na caridade e no amor, e Maria cresceu na caridade a vida inteira.
“Todos os cristãos, em qualquer estado ou modo de vida, são chamados à plenitude
da vida cristã e à perfeição do amor... Todos os cristãos são chamados e devem tender, à
santidade e perfeição do próprio estado” (LG 41, 42). A santidade consegue-se pela prática
da vida. “Toda a santidade consiste no amor a Deus e todo o amor a Deus consiste em fazer
a Sua vontade” (Santo Afonso M. de Ligório).
“Para poder descobrir a vontade concreta do Senhor sobre a nossa vida, são sempre
indispensáveis a escuta pronta e dócil da palavra de Deus e da Igreja, a oração filial e
constante, a relação com uma sábia e amorosa direção espiritual, a leitura, feita na fé, dos
dons e dos talentos recebidos, bem como das diversas situações sociais e históricas em que
nos encontramos” (ChL 58).
A formação espiritual dos legionários a nível de Praesidium concorre
poderosamente para o desenvolvimento da própria santidade. Convém que nos lembremos,
porém, de que a orientação espiritual é coletiva. Uma vez que cada membro é um indivíduo
único com necessidades próprias, é desejável que a direção coletiva seja completada por
uma orientação individual, por “uma sábia e amorosa direção espiritual” (Op. C).
Para a vida cristã há três exigências necessárias, ligadas entre si: a oração, o espírito
de sacrifício e os sacramentos.
201
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 202]
a) A oração
Como cada um de nós é, por natureza, indivíduo e ser social, a nossa oração deve
abranger necessariamente dois aspectos: tem de ser individual e social. O dever da oração
obriga-nos, antes de mais nada, como indivíduos; mas obriga também o todo, em que os
indivíduos se ligam entre si por vínculos sociais. A Liturgia – como a Missa e o Ofício
Divino – é o culto público da Igreja. O Vaticano II comenta, no entanto: “O cristão,
chamado a rezar em comum, deve entrar também no seu quarto para rezar a sós ao Pai, e
até, segundo ensina o Apóstolo, deve rezar sem cessar” (SC 12). Os exercícios pessoais
incluem: “A meditação, o exame de consciência, os retiros espirituais, a visita ao
Santíssimo Sacramento e as orações particulares em honra de Nossa Senhora, entre as quais
destaca-se a do Rosário” (MD 186). “Nutrindo intensamente nos fiéis a vida espiritual,
dispõem-nos a tomar parte frutuosamente nas sagradas funções e evitam o perigo de que as
preces litúrgicas se reduzam a vão ritualismo” (MD 187).
A leitura espiritual, em particular, concorre para desenvolver as convicções cristãs e
ajuda muito a vida de oração. Devemos preferir a leitura do Novo Testamento, com um
comentário católico conveniente (DV 12), e os clássicos católicos, escolhidos de acordo
com as nossas necessidades e capacidades. É aqui que um “sábio” guia é especialmente
importante. As Vidas dos Santos bem escritas constituem uma boa introdução à vida
espiritual. Fornecem orientações que nos atraem para o bem e o heroísmo. Os Santos são a
concretização visível das doutrinas e exercícios da santidade. Se conhecermos suas vidas,
imitaremos em breve as suas virtudes.
Dentro do possível, todo legionário deve fazer um retiro fechado uma vez por ano.
O fruto dos retiros e recolhimentos é uma visão mais clara de nossa vocação pessoal no
mundo e uma decisão firme de viver essa vocação com fidelidade.
b) Espírito de sacrifício
O espírito de sacrifício de que falamos aqui tem como fim libertar-nos do egoísmo,
para que Cristo possa viver plenamente em nós. Podemos chamá-lo de autodisciplina para
amar a Deus de todo o coração e, aos outros, por amor a Deus. A necessidade do sacrifício
brota do pecado original, que turva a inteligência, enfraquece a vontade e facilita as paixões
para o mal.
O primeiro passo a dar é o cumprimento voluntário daquilo que a Igreja estabelece
nos dias e estações do ano consagrados à penitência e a forma como devemos observá-la. O
sistema da
202
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 203]
Legião, devidamente seguido, constitui um exercício válido de sacrifício.
Vem depois a amorosa aceitação, das mãos de Deus, das “cruzes, trabalhos e
decepções da vida”. Segue-se o domínio positivo dos sentidos, especialmente do olhar,
ouvir e falar. Estes exercícios ajudam a controlar a memória e a imaginação. O sacrifício
envolve também a vitória sobre a preguiça, o mau humor e as atitudes egoístas. Leva-nos a
um comportamento delicado e amável com aqueles que vivem ou trabalham conosco. O
apostolado pessoal – a amizade levada à sua conclusão lógica – implica, por outro lado, o
espírito de sacrifício, pois o apóstolo assume o incômodo de ajudar os amigos a endireitar a
vida, de uma forma bondosa e delicada. “Fiz-me tudo para todos para salvar alguns a todo
custo” (1Cor 9, 22), diz S. Paulo. Os esforços necessários para reprimir as tendências
perigosas e cultivar os bons hábitos servem também para reparar os pecados pessoais e os
dos outros membros do Corpo Místico. Se Cristo, a Cabeça, sofreu por causa dos nossos
pecados, é normal que sejamos solidários com Ele; se Cristo, inocente, pagou por nós,
culpados, devemos fazer alguma coisa com certeza. Toda prova clara de pecado inspira o
cristão generoso a fazer atos positivos de reparação.
c) Sacramentos
A união com Cristo tem a sua fonte no Batismo, o seu desenvolvimento posterior na
Confirmação, e a sua realização e poderoso alimento na Eucaristia. Como estes
Sacramentos são tratados em diversas partes do Manual, vamos tratar aqui do Sacramento
em que Cristo continua a exercer o seu misericordioso perdão através de alguém que age
em seu lugar – o sacerdote católico. Este Sacramento tem vários nomes: Confissão,
Penitência e Reconciliação. Confissão, porque é o franco reconhecimento dos pecados
cometidos; Penitência, porque envolve mudança de vida; Reconciliação, porque mediante
este Sacramento o penitente reconcilia-se com Deus, com a Igreja e com todo o gênero
humano. Está intimamente ligado à Eucaristia, porque o perdão de Cristo nos chega pelos
méritos da Sua morte – morte que celebramos na Eucaristia.
Aproveite cada legionário o convite de Cristo para se encontrar com Ele
pessoalmente no Sacramento da Reconciliação, de forma freqüente e regular, “Sacramento
que aumenta o conhecimento próprio, desenvolve a humildade cristã, arranca pelas raízes
os maus costumes, combate o descuido e a fraqueza
203
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 204]
espiritual, purifica a consciência, fortifica a vontade, presta-se à direção espiritual e
aumenta a graça” (MC 87). Depois de experimentar os benefícios do Sacramento da
Reconciliação, os legionários se sentirão estimulados a partilhá-los com as outras pessoas,
convidando-as para a Confissão.
Resumindo: a salvação do gênero humano e a sua santificação, assim como a
transformação do mundo, resultam da vida de Cristo nos corações e na vida das pessoas.
Nisto reside, por excelência, o problema vital.
“A espiritualidade mariana, assim como a devoção correspondente, tem riquíssima
fonte na experiência histórica das pessoas e das diversas comunidades cristãs que, no seio
de vários povos e nações, vivem sobre a face da terra. A este propósito, gratifica-me
recordar, dentre as muitas testemunhas e mestres de tal espiritualidade, a figura de S. Luís
Maria Grignion de Montfort que propõe aos cristãos a consagração a Cristo pelas mãos de
Maria, como meio eficaz para viverem fielmente os compromissos batismais” (RMat 48).
“Existe uma ligação orgânica entre a nossa vida espiritual e os dogmas. Os dogmas
são luzes no caminho da nossa fé: iluminam-no e tornam-no seguro. Por outro lado, se a
vida é reta, a nossa inteligência e coração estarão abertos para acolher a luz dos dogmas da
fé” (CIC 89).
14. O legionário e a vocação cristã
Mais do que a execução de um trabalho apostólico, a Legião propõe uma forma de
viver a vida cristã. A formação legionária destina-se a influenciar todos os aspectos e horas
da vida. Quem é legionário só durante a reunião e a distribuição do trabalho semanal não
vive o espírito da Legião.
A Legião tem como objetivo ajudar os seus membros e aqueles com quem eles estão
em contato a viver a vocação cristã de forma perfeita. Esta vocação tem a sua fonte no
Batismo. Pelo Batismo, tornamo-nos um com Cristo. “Tornamo-nos não só outros Cristos,
mas o próprio Cristo” (Santo Agostinho).
Incorporados em Cristo pelo Batismo, cada membro da Sua Igreja participa do Seu
sacerdócio, profetismo e realeza.
Participamos da missão sacerdotal de Cristo pelo culto particular e público. A
forma mais elevada de culto é o sacrifício. Pelo sacrifício espiritual, oferecemos-nos e
oferecemos todas as nossas atividades a Deus, nosso Pai. Falando dos fiéis leigos, diz
204
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 205]
o Concílio Vaticano II: “Todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a
vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem
feitos no Espírito, e as próprias dificuldades da vida, suportados com paciência, se tornam
outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (1Pd 2, 5);
sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com o oferecimento
do Corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. Deste modo, os leigos, agindo em toda a
parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo.” (LG 34)
Participamos também da missão profética (ensinar) de Cristo, que proclamou o
reino de Seu Pai, pelo testemunho da vida e pela força da palavra (LG 35). Como fiéis
leigos, recebemos a capacidade e a responsabilidade de aceitar o Evangelho com fé e
proclamá-lo por palavras e ações. O maior serviço que podemos prestar às pessoas é
apresentar-lhes as verdades da fé – dizer-lhes, por exemplo, quem é Deus, quem é o
homem, qual a finalidade da vida e o que se segue à morte. Acima de tudo, falar-lhes de
Cristo, Nosso Senhor, que contém em si toda a verdade. Não é necessário saber argumentar,
apresentar provas do que dizemos; basta conhecer e viver estas verdades e ter consciência
da diferença que representam; falar delas de forma inteligente, comunicar suficientemente o
seu sentido, de modo a despertar o interesse e levar as pessoas a procurarem, talvez, uma
informação mais completa.
Pertencer à Legião ajuda a melhor conhecer e viver a fé. Ajuda também, com forte
motivação e experiência, a falar da religião a estranhos. Mas aqueles que têm mais direito à
nossa caridade apostólica são os que encontramos habitualmente em casa, na escola, no
trato dos negócios, no exercício da profissão, nas atividades sociais e nas horas livres.
Normalmente, não fazem parte do trabalho legionário que nos é atribuído, mas, apesar
disso, as pessoas com que nos relacionamos nos foram confiadas por Deus.
Participamos também da missão real de Cristo vencendo o pecado em nós mesmos
e servindo os companheiros de jornada, pois reinar é servir. Cristo disse que tinha vindo
para servir e não para ser servido (Mt 20, 28). Participamos desta missão de Cristo
sobretudo fazendo bem o trabalho, qualquer que ele seja, em casa ou fora, por amor a Deus
e como serviço prestado aos outros irmãos. Com o nosso trabalho bem feito, ajudamos a
construir um mundo melhor, um lugar mais agradável para nele
205
[Capítulo 33 Principais Deveres dos Legionários página 206]
viver. Fazer com que o espírito do Evangelho penetre e aperfeiçoe a ordem temporal – os
trabalhos terrenos – é tarefa privilegiada dos cristãos.
No Compromisso Legionário pedimos a graça de ser instrumento dos soberanos
desígnios do Espírito Santo. É certo que as nossas ações devem ser sobrenaturalmente
motivadas, mas a nossa natureza humana deve oferecer ao Espírito Santo um instrumento
perfeito, tanto quanto possível.
Cristo é uma Pessoa Divina, mas a natureza humana de que era dotado cumpria a
parte respectiva nas suas ações: a sua inteligência humana, a sua voz, o seu olhar, o seu
comportamento. As pessoas, mesmo as crianças, que percebem as coisas melhor que todos,
gostavam da sua companhia. Era um hóspede bem-vindo a todas as mesas.
S. Francisco de Sales era alguém que tinha uma postura e um jeito de tratar as
pessoas que o ajudavam a guiá-las no caminho da conversão. Recomenda ele, a quem
quiser praticar a caridade, o dever de cultivar o que chama “as pequenas virtudes”: a
benevolência, a cortesia, as boas maneiras, a delicadeza, a paciência e compreensão,
especialmente com as pessoas difíceis.
“A identidade de sangue implica, entre Jesus e Maria, uma semelhança de
formação, de feições, de tendências, de gostos e de virtudes; não só porque a identidade de
sangue causa, com freqüência, tal semelhança, mas porque, no caso de Maria, – em
virtude de a sua maternidade ser um fato inteiramente de ordem sobrenatural, efeito duma
graça transbordante – esta graça se apoderou do princípio mais ou menos comum da
natureza e o desenvolveu a ponto de a tornar uma imagem viva, um retrato perfeitíssimo,
sob todos os aspectos, do Seu Divino Filho; de sorte que, em Maria, se contemplava a mais
delicada imagem de Jesus Cristo. Esta mesma relação de maternidade estabeleceu, entre
Maria e seu Filho, uma intimidade não só de trato mútuo e comunhão vital, mas também
de intercâmbio de corações e segredos; e de tal modo que ela era o espelho refletor de
todos os pensamentos, sentimentos, anelos, desejos e propósitos de Jesus, assim como Ele
refletia, por Seu turno, de forma esplêndida, em espelho imaculado, o prodígio de pureza,
de amor, de dedicação, de imensa caridade, que era a alma de Maria. A Virgem podia, por
conseguinte, com mais razão do que o Apóstolo das Gentes, exclamar: ‘Eu vivo, mas não
sou eu quem vive: é Jesus que vive em mim.’” (De Concílio: O Conhecimento de Maria)
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34
DEVERES DOS OFICIAIS DO PRAESIDIUM
1. Diretor Espiritual
É em face das qualidades espirituais desenvolvidas nos seus membros e postas em
prática que a Legião julga os seus próprios êxitos. O Diretor Espiritual torna-se, por isso
mesmo, a mola real do Praesidium. Sobre ele recai, primariamente, a responsabilidade de
colocar essas qualidades no coração dos Legionários.
Participará das reuniões e, com o Presidente e os outros Oficiais, velará pelo
cumprimento do espírito e da letra dos regulamentos e métodos legionários. Deve se opor
aos abusos e apoiará toda autoridade legionária legitimidade constituída.
Se o Praesidium for digno do seu nome, há de reunir os melhores elementos da
paróquia me zelo e possibilidades. Mas o Praesidium depende do Diretor Espiritual na
realização do sei trabalho – trabalho substancial que exigirá sérios esforços. Ele deve
animar os legionários, lançando por terra a barreira das coisas que lhe desagradam,
interiores ou exteriores. O Diretor Espiritual é para o Praesidium o princípio animador da
sua vida espiritual. O Papa Pio XI chegou a aplicar-lhe as palavras do Salmista: “A minha
sorte está nas tuas mãos”. Que tristeza, se tal confiança se frustrasse num único caso e se
um grupo de apóstolos desejosos de trabalhar o melhor possível, por Deus, por Maria e
pelos irmãos, fosse deixado ao abandono, como rebanho sem pastor! Que diria o Pastor
Supremo do Diretor Espiritual sem zelo, a quem dera a tarefa de ser “a alma da associação,
o inspirador de todas as boas iniciativas, e fonte de zelo?” (Pio XI).
O Diretor Espiritual há de considerar os membros do Praesidium como Mestre de
noviços considera os que estão entregues aos seus cuidados, procurando, sem cessar,
formá-los espiritualmente e levá-los a atos e virtudes próprias do legionário de Maria.
Assim se verificará que as qualidades espirituais dos membros atingem os mais altos níveis
propostos ás suas elevadas aspirações. Não receie, pois, o Diretor Espiritual, chamá-lo a
uma virtude suprema ou propor-lhes trabalhos cuja execução requeira o heroísmo. Até o
que humanamente parece impossível cede á da graça, e esta, é concedida por Deus a quem
a pede. Para isso, o Diretor Espiritual deve insistir com cada legionário para que seja
sempre fiel a cada um dos pormenores dos seus de-
207
[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 208]
veres, como fundamento absolutamente necessário de toda grande obra. Embora o caráter
se manifeste nos grandes momentos críticos, é nas pequeninas ocasiões que ele se forma.
Velará para que os membros não empreendam qualquer trabalho com espírito
egoísta, para que não voltem orgulhosos com os triunfos, nem deprimidos com os reveses
aparentes, e se mantenham sempre prontos, se forem mandados, a voltar mil vezes á mesma
tarefa, por mais desagradável e dura que seja.
Cuidará que os legionários juntem a oração e o sacrifício á execução corajosa e
completa do trabalho encomendado. E lhes dirá que é justamente quando todos os meios
comuns falharem e a situação for humanamente desesperada que eles devem voltar-se com
inabalável confiança para a Rainha da Legião e sua Mãe, certos de que lhes conseguirá a
vitória.
Um dos deveres essenciais do Diretor Espiritual da Legião de Maria é infundir em
todos os membros o amor esclarecido e ardente à Mãe de Deus e, em particular, àqueles
Seus privilégios que a Legião honra de modo especial.
Desta sorte, com um trabalho de construção paciente, ajustando pedra sobre pedra,
poderá alimentar esperança de erguer em cada legionário uma fortaleza espiritual que coisa
nenhuma conseguirá desintegrar.
Como membro do Praesidium, o Diretor Espiritual toma parte na administração dos
negócios e na sua discussão, e será, “conforme a necessidade o exija, mestre, conselheiro e
guia” (Papa Pio X). Que não tome para si, porém, os direitos do Presidente: qualquer
tendência neste sentido seria prejudicial ao Praesiduim. Como efeito, se ao prestígio de
sacerdote e ao seu conhecimento muito mais vasto da vida se juntasse a direção dos
negócios do Praesidium, o efeito sobre a assistência seria esmagador. O exame de cada caso
particular acabaria num diálogo entre ele e o legionário interessado; o Presidente e os
outros participantes, calados não tomariam parte, com receio de que a sua intervenção fosse
tomada como oposição ao juízo do Diretor Espiritual. Suprir assim a discussão livre e geral
dos casos é tirar á reunião do Praesidium o seu mais poderoso atrativo, o seu principal valor
de formação, a mais benéfica fonte de bem-estar. Na ausência do Diretor Espiritual, o
Praesidium deixaria de funcionar e haveria de acabar definitivamente com a sua partida.
“Deve interessar-se –como é exigido, aliás, dos demais membros – por tudo quanto
se diz na reunião. Não aproveite, porém, todas as palavras como outras tantas
oportunidades para
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[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 209]
colocar seus pontos de vista pessoais. Há de fazê-lo, é certo, sempre que se requeiram
claramente o seu conselho ou os seus conhecimentos. Faça-o todavia, com bom senso e na
medida certa, sem diminuir a ação do Presidente e sem abafar a participação dos membros
com as suas intervenções excessivas; e por outro lado, intervindo tanto e de tal forma que
sirva de modelo aos demais no interesses pelos casos que não lhes são pessoais” (Mons.
Helmsing, Bispo).
Sempre que o Praesidium se consagrar ao trabalho se estudo, o Diretor Espiritual
deve supervisionar na seleção dos livros a ler. Exercerá vigilante censura sobre os
trabalhos a apresentar, nunca deixando expor doutrinas que não concordem plenamente
com os princípios autênticos da Igreja.
Imediatamente a seguir à reza da Catena, o Diretor Espiritual fará uma breve
palestra, de preferência a modo de comentário do Manual. No caso de estar ausente, esta
obrigação compete ao Presidente.(Ver capítulo 18, “Ordem a Observar na Reunião”, n°11,
Alocução).
Logo depois das Orações Finais da reunião, o Diretor Espiritual dará a bênção aos
membros.
“Cristo fundou, de verdade, um sacerdócio, não só para O representante e
substituir, mas de certo modo, para ser Ele mesmo, quer dizer que Ele exercerá os Seus
poderes divinos por intermédio dos sacerdotes. Por isso, afeto e a reverência para com o
sacerdote são uma homenagem direta ao Eterno Sacerdócio, de participa o ministro
humano.” (Benson: A Amizade de Cristo)
“O sacerdote ao anoitecer, vai para a praça pública chamar os trabalhadores para
a vinha do Senhor: Sem o chamamento dele, a maior parte corre o grande risco de ficar ali
‘todo o dia ociosos’ (Mt 20,6)” (Civardi)
2. Presidente
1. O principal dever do Presidente consiste em participar das reuniões da Cúria de
que depende o Praesidium e, por este e outros meios, manter o seu núcleo firmemente
unido ao Conselho Superior.
2. Compete a ele presidir e dirigir aos assuntos nas reuniões do Praesidium.
Distribuirá o trabalho semanal e receberá os relatórios dos membros sobre os trabalhos de
que foram incum-
209
[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 210]
bidos. Deve mostrar-se consciente da sua responsabilidade, como administrador da Legião,
para aplicar fielmente os regulamentos legionários em todos os pormenores. Faltar a este
encargo é ser infiel à Legião. Para os exércitos da terra ele seria um traidor e receberia o
mais tremendo castigo.
3. É ele o principal encarregado de velar para que a sala esteja devidamente
preparada (no que diz respeito à luz, aquecimento, assentos, etc.), a fim de que a reunião
comece à hora marcada.
4. Deverá começar a reunião pontualmente à hora fixada, interrompendo-a no
momento devido. Para este é conveniente ter um relógio em frente, sobre a mesa.
5. Na ausência do Diretor Espiritual é ele que faz a Alocução ou designa para fazêla.
6. Instruirá nas suas obrigações os diversos Oficiais e velará pelo perfeito
cumprimento dos seus cargos.
7. Esteja sempre atento para descobrir os membros especialmente qualificados e
poder recomendá-los à curia, quando se tratar de preencher as vagas de Oficiais , dentro ou
fora do Praesidium. E como o valor do Praesidium depende das elevadas qualidades dos
seus Oficiais, é glória do Presidente fazer surgir e formar estes, preparando assim o futuro
da Legião.
8. Dará a todos os seus companheiros exemplo de elevado nível de espiritualidade e
de zelo, mas a ponto de tomar sobre si o trabalho deles. Neste caso, daria prova de zelo mas
não o bom exemplo, pois os impossibilitaria de segui-lo.
9. Deve recordar-se de que os relatórios apresentados a meia voz ou indistintamente
são inimigos da reunião; ele próprio falará num tom de voz que se ouça claramente em toda
a sala. Descuide-se neste dois pontos e há de verificar que os relatórios se farão um voz que
quase não se percebe, cansando os participantes, obrigados, para ouvi-los, a um tal esforço
que o interesse pela reunião não tardará a diminuir.
10. Velará com cuidado para cada membro apresente um relatório completo da sua
atividade; ajudará os inexperientes, e os tímidos com perguntas apropriadas; e, por outro
lado, abre-
210
[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 211]
viará os relatórios que, embora excelentes, ameacem estender-se demais.
11. Em conformidade com o que a correta direção da reunião possa exigir, o
Presidente deverá falar o mínimo possível, mantendo um justo meio termo entre dois
extremos. Um extremo consiste em conduzir a reunião sem fazer um reparo nem dar
estímulo, deixando-a correr por si mesma. Resultando: alguns membros contentam-se com
relatórios curtos de mais, enquanto outros nunca se calam. A média destes dois excessos
pode criar a ilusão de que o Praesidium trata dos seus assuntos no tempo devido. Mas será
preciso acentuar que a combinação dos dois erros não dá uma verdade, assim como uma
desordem disfarçada não pode ser considerada como ordem perfeita.
O outro extremo consiste me falar demais. Presidente há que falam com entusiasmo
durante a reunião inteira, apossando-se do tempo pertencente aos outros membros, e
deturpando assim o propósito do Praesidium, que não se assenta num sistema de
conferência, mas numa consideração harmônica dos “negócios do Pai” (Lc 2,49). Mais do
que isso: a fala em excesso da Presidência leva os participantes a uma atitude de
relaxamento, que tira a todos a vontade de abrir a boca.
A formação dos membros, resultante destes dois processos, é péssima.
12. Cultivará no Praesidium o espírito de fraternidade, com a certeza de que tudo
estará perdido se este não existir. Pode e deve contribuir para desenvolvê-lo, mostrando
mais profundo afeto a todos e a cada um dos membros, sem distinção; e, de modo geral,
esforçando-se por dar exemplo de verdade humildade. Tome para si as palavras do
Salvador: “O que entre vós quiser ser o primeiro, esse seja o vosso servo” (Mt 20,27).
13. Anime o Presidente todos os membros a expressarem as suas opiniões e a
oferecerem voluntariamente a sua ajuda para trabalhos de que não foram oficialmente
encarregados. Deste modo despertará neles o mais vivo interesse por todos os trabalhos de
Praesidium.
14. Deverá se certificar de que cada legionário trabalha:
a) segundo o verdadeiro espírito;
b) segundo os verdadeiros métodos da Legião;
211
[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 212]
c) realizando, de fato, todo o bem que a Legião deseja ver realizado em cada caso
participar.
O presidente deverá ainda certificar:
a) de que se recomeçam, de vez em quando, antigos trabalhos;
b) e se mantém ardente o espírito de conquista, investindo-se regularmente em
novas tarefas, onde isso é possível.
15. Procure obter dos membros à soma de esforços e de sacrifícios que eles podem
dar. Exigir de um legionário de grandes possibilidades uma tarefa insignificante é ser
injustíssimo para com ele, é prejudicar os seus interesses eternos. Sem alguém que nos
anime, qualquer um de nós cai no relaxamento. Deve, pois o Presidente estimular todos os
membros a servirem generosamente a Deus, que reclamam de cada uma das Suas criaturas
o rendimento máximo.
16. As falhas do Praesidium são, habitualmente, as falhas do Presidente. Se o
Presidente admite falhas, estas hão de repetir-se e agravar-se.
17. Como o Presidente se encontra à testa da reunião cerca de cinqüenta vezes por
ano, será inevitável, em algumas ocasiões, carta irritação. Procure, então, não demonstrar
isso, pois nada há de mais contagioso do que o mau humor. Partindo o exemplo de uma
pessoa, sobretudo de autoridade, se lastrará rápido e desastrosamente pelo conjunto.
18. Se o Presidente notar que o Praesidium começa a cair no desleixo e a perder o
seu verdadeiro espírito, consulte, em particular, os Oficiais da Cúria sobre a melhor solução
a adotar. No caso de o aconselharem a deixar o seu cargo, submeta-se humildemente a tal
decisão, certo de que, procedendo assim, alcançará de Deus abundante graças.
19. Como todos os outros Oficiais e membros do Praesidium, o Presidente satisfará
as suas obrigações, e fará o trabalho ordinário do Praesidium. Talvez pareça inútil enunciar
este ponto do regulamento, visto tratar-se do Presidente. A experiência, porém, prova o
contrário.
20. Finalmente, procure o Presidente cultivar as qualidades que, no dizer do Cardeal
Pizzardo – autoridade indiscutível em matéria de apostolado dos leigos – devem
caracterizar todos os
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[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 213]
chefes deste movimento: submissão dócil à Autoridade Eclesiástica, espírito de dedicação,
de caridade e de caridade e de harmonia com as outras organizações e as pessoas que a elas
pertencem.
“Logo que me encarregaram da direção das almas, verifiquei imediatamente que a
tarefa ultrapassava as minhas forças; e, lançando-me depressa nos braços de Deus, imitei
aquelas criancinhas que, levadas por qualquer receio, escondem a cabecinha contra o
pescoço de seu Pai; e, disse: ‘Senhor, bem vedes que sou pequenina demais para alimentar
as Vossas filhas; se quereis dar-lhes, por mim, aquilo de que precisam, enchei a minha
mão; e, sem largar os Vossos braços, sem mesmo voltar a cabeça distribuirei os Vossos
tesouros à alma que viver pedir-me o alimento. Quando ela achar saboroso, reconhecerei
que a Vós e o deve e não a mim; pelo contrário, se queixar, porque lhe amarga, não me
inquietarei, tratarei de persuadi-la de que esse alimento vem de Vós, e aguardar-me-ei de
lhe oferecer outro’ ” (Santa Tereza do Menino Jesus)
3. Vice-Presidente
1. É dever do Vice-Presidente participar das reuniões da Curia.
2. Presidirá à reunião do Praesidium, na ausência do Presidente. Saiba-se, porém ,
que os eu posto não lhe dá direito algum se sucessão ao cargo de Presidente.
O aviso seguinte, tirado do Manual das Conferências de São Vicente de Paulo, aplica-se
igualdade ao Vice-Presidente do Praesidium: “Na ausência do Presidente, sobretudo se esta
for prolongada, o Vice-Presidente tem todos os poderes daquele e faz em tudo as suas
vezes. Não pode uma Associação ser reduzida à inatividade, porque à reunião falta algum
dos seus membros; ora, tal sucederia, se os presentes nada ousassem fazer na ausência do
Presidente. É, pois, não só um direito, mas um dever de consciência, por parte do Vice-
Presidente, substituir plenamente o Presidente quando este estiver ausente, a fim de que,
quando este estiver ausente, a fim de que, quando ele voltar, não encontre um clima de
desânimo por causa de sua ausência.”
3. O Vice-Presidente tem a obrigação de ajudar o Presidente na administração do
Praesidium e na direção dos trabalhos. Supõe-se, muitas vezes, que esta obrigação só
começa quando o
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[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 214]
Presidente se ausenta. Erro que, se não fosse esclarecido, se tornaria desastroso para o
Vice-Presidente e para o Praesidium. A verdade é que o Vice-Presidente deve cooperar
intimamente em toda a atividade presidencial. Os dois são, em relação ao Praesidium ,como
o pai e mãe dentro do lar, ou como, no exército, o Comandante e o seu Chefe de Estado
Maior. O papel de Vice-Presidente é não só substituir o Presidente, mas completá-lo. Isto
quer dizer que ele é um Oficial honorário. Durante as reuniões, o seu cuidado é,
especialmente, atender a inumeráveis pormenores que, escapando à atenção do Presidente,
são, todavia, condições absolutas da boa marcha do Praesidium.
4. O Vice-Presidente está participando encarregado de tudo que se relaciona com os
membros do Praesidium. Tratará de receber os novos, quando participarem pela primeira
vez da reunião, e de ao apresentar aos outros legionários antes ou depois da reunião.
Cuidará para que lhes seja designado um trabalho, pela sua instrução nos deveres próprios
(incluindo a reza diária da Catena), lhe dará conhecimento da existência e condições de
admissão ao grau de Pretoriano.
5. Durante a reunião marcará as presenças no Caderno de chamada.
6. Terá em seu poder e em dia as listas dos membros Ativos, Pretorianos, Adjutores
e Auxiliares, subdividindo-se em cada caso em duas seções, uma para se certificar do modo
como cumpriram as suas obrigações e, no caso de haverem sido fiéis, transferirá os seus
nomes para os registros definitivos do Praesidium.
7. Aos membros Ativos em experiência dará conhecimento da aproximação do fim
do respectivo período e tomará as providencias necessárias para que prestem o
Compromisso Legionário.
8. Anotará as ausências dos membros ás reuniões e fará esforços, por escrito ou por
outro meio, para impedir o seu afastamento definitivo.
Temos, de um lado, membros que não deixam dúvidas de que são firmes. De outro
lado, os que logo deixam a Legião por falta de condições ou vocação. Mas é claro que,
entre esses dois
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[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 215]
extremos, existem muitos e muitos que dependem de cuidados e de um Oficial atencioso
que os anime para que perseverem nas fileiras legionárias. Ao Vice-Presidente cabe este
papel. Convém notar aqui que, para a Legião, é mais importante a perseverança de um
membro antigo do que o recrutamento de um novo. O Oficial que se consagra com
fidelidade a este encargo, tornando-se diretamente responsável por inúmeras boas ações e
vitórias espirituais, concorrerá para rápida formação de novos Praesidia, exercerá, deste
modo, um apostolado único no seu gênero.
9. O Vice-Presidente não deixará esquecer a obrigação de rezar pelos membros
falecidos, como está determinado em capítulo próprio.
10. Visitará os legionários enfermos ou cuidará de que os outros membros os
visitem.
11. Dirigirá os esforços de todos, quando se trate de arranjar membros Auxiliares –
especialmente Adjutores – e de manter-se em relação com eles.
“As noviças, ao verem como Santa Teresa adivinhava os seus mais íntimos
pensamentos, não puderam calar um dia o seu espanto. ‘Aqui está o meu segredo, explicou
ela. ‘Nunca vos faço uma observação, sem invocar antes a Santíssima Virgem, para que
me ilumine sobre aquilo que vos pode fazer maior bem: e fico admirada diante das coisas
que vos ensino. Sinto, quando vos falo, que não me engano, ao pensar que Jesus vos pela
minha boca.’’’(Santa Teresa de Lisieux)
4. Secretário
1. O Secretário deverá participar das reuniões da Curia.
2. Sobre o Secretário recai a responsabilidade de redigir e guardar as Atas do
Praesidium. Ponha na sua elaboração o máximo cuidado e leia-as muito claramente.
Desempenham papel importantíssimo, quer pelo seu conteúdo, quer pela maneira como são
lidas. Bem feitas, nem longas nem breves demais - graças à boa vontade que nelas se
empregou – as Atas exercem uma poderosa influência sobre os resto da reunião e muito
contribuem para o seu bom êxito.
215
[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 216]
3. Para produzir bons resultados, deverá prestar atenção aos instrumentos de seu
trabalho. Está provando – é assim a natureza humana!- que nem o melhor Secretário faz
coisa digna de apresentação, se escrever com caneta ou lápis defeituosos em papel de
qualidade inferior. Redijam-se, pois, as Atas a tinta ou máquina e em livro apropriado de
boa qualidade.
4. O Secretário não cumpre com a obrigação de trabalho semanal do Praesidium
com o desempenho dos seus deveres de Secretário.
5. Expedirá prontamente todos os relatórios e informações requeridos pela Curia e,
e, geral, será responsável pela correspondência do Praesidium. Tenha sempre na sede uma
boa reserva de papel, caneta, etc.
6. O Presidente poderá delegar a outros membros do Praesidium certas atribuições
do Secretário.
“Diz o Evangelho: ‘Maria conserva todas estas coisas em Seu coração’(Lc 2,51). E
por que não, também, em pergaminho? Pergunta Botticelli. E, sem entrar na profunda
exegese do assunto, pinta-nos o mais perfeito de todos os hinos de transporte e gratidão:
um Anjo oferece um tinteiro com a direita, enquanto com a esquerda segura um
manuscrito, em que a Santíssima Virgem transcreveu o Magnificat em iluminados
caracteres góticos; o menino, rechochundo, tem um ar de profeta e a sua mão frágil
permanece guiar os dedos de Sua Mãe – esses dedos nervosos, impressionáveis, quase
espirituais, que o Mestre Florentino associa sempre intimamente com a expressão da sua
idéia da Virgem. O tinteiro tem, outrossim, o seu significado. Embora não seja de ouro,
nem encrustado de gemas, como a coroa que os Anjos sustentam, simboliza, no entanto, o
destino triunfal da rainha do Céu e da Terra. Representa tudo quanto no decorrer dos
tempos há de ser escrito no anais humanos, em confirmação do que esta humilde serva do
Senhor predisse da Sua própria glória.”
5. Tesoureiro
1. O Tesoureiro participará das reuniões da Curia.
2. Ao Tesoureiro pertence fazer e receber os pagamentos do Praesidium e guardar
em caixa as receitas, escrevendo tudo em livro apropriado, detalhada e ordenadamente.
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[Capítulo 34 Deveres dos Oficiais do Praesidium página 217]
3. Não se esquecerá de fazer a coleta secreta em cada reunião.
4. Não fará pagamentos sem autorização do Praesidium e depositará o dinheiro a
crédito deste, conforme as diretrizes que tiver recebido.
5. Procurará não esquecer a advertência referente à acumulação de fundos, feita no
capítulo 35, “Receitas e Despesas”, e proporá de tempos em tempos o assunto ao
Praesidium.
“Maria é a despenseira da Santíssima Trindade, repartindo o vinho do Espírito
santo a quem Ela quer e na medida em que Ela quer.” (Santo Alberto Magno)
“Maria é a tesoureira, cujo tesouro é Jesus Cristo: é o Salvador que Ela possui, o
salvador que Ela dá.” (S. Pedro Julião Eymard)
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RECEITAS E DESPESAS
1. Todos os corpos legionários devem contribuir para a manutenção do Conselho
superior imediato. Com exceção desta obrigação e das prescrições que seguem, têm plena
liberdade para a gerência das suas receitas e responsabilidade exclusiva das suas dívidas.
2. Os vários centros não devem limitar a percentagens ou ao mínimo necessário as
suas contribuições. O excedente, depois de satisfeitas as necessidades do Praesidium,
recomenda-se que o enviem à Curia para as despesas da administração geral da Legião.
Nesta matéria, como em tudo, as relações entre o Praesidium e a Curia devem ser como as
do filho com a mãe; esta vela com solicitude pelos interesses daquele, o qual, por sua vez,
procura, por todos os meios, aliviá-la dos seus cuidados maternais.
Verifica-se, com freqüência demasiada, que os Praesidia não se dão conta suficiente
de que a administração geral da Legião depende das suas contribuições. Quando muito,
cobrem as necessidades das Curiae, e às vezes nem tanto. Em conseqüência, as Curia não
podem ajudar os Conselhos superiores a levar o pe-
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